quinta-feira, 30 de abril de 2020

Quarenteen Mood

O Estado de Emergencia chega ao fim...
Se por um lado é claramente precipitado e tem tudo para correr mal, por outro mantê-lo tem tudo para correr mal também!
Para mim, que estou a ser uma privilegiada, com patrões que se estão a aguentar e a aguentar-nos, a quarentena está a ser óptima. Tenho usado o tempo para mim, para investir em cursos e leituras, para finalmente ter tempo para falar com os meus amigos. Já nem me imagino a ter de sair de casa ou a vestir algo que não seja o pijama. Não quero pensar que já não vou passar as tardes no quintal a apanhar sol com os gatos (acho que esta quebra de rotina também será dura para eles).
Contudo... e os não privilegiados? Os que se estão a endividar, a perder casas, comida, dignidade, segurança...?
Tenho fé então, que o retomar da economia trave a pandemia social que aí vem. Que a minimize para muitos, pelo menos. Porque a verdade é que para muita gente a questao é apenas: "Se não morrer de Covid, morrerei de fome".

Será o que tiver de ser e espero que todos continuemos bem nesta blogosfera, no final de tudo.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Do México XIX

Do choque III

No México, os colonizadores acabaram por não conseguir eliminar a religião indígena existente, ao mesmo tempo que não conseguiram consolidar de forma hegemónica o cristianismo e ainda conseguiram misturar tudo ao levar para este território escravos africanos.
Resultado actual: em cada bairro há um altar à virgem de Guadalupe e aos seus pés ervas, incensos, mezinhas aztecas e galinhas degoladas.
O México actual é uma verdadeira mistura esotérica, onde a Santeria é a religião oficial. Como o nome indica, Santeria. Eles defendem que é uma religião que presta culto a todos os santos, sejam eles católicos ou africanos. E para isso usam diversas ferramentas e práticas.
Numa localidade chamada San Juan de Chamula, entrei em choque quando adentrei na Igreja principal.
Não existiam bancos ao meio. os santos estavam todos nas laterais, de pé, próximos aos crentes, sem altares ou nichos com vidro protector. E as pessoas entravam com o seu bruxo e ajoelhavam-se perante o santo de sua devoção com uma galinha negra e o bruxo. O qual depois de longas orações numa longua que desconheço, degolava a galinha. O cheiro a incenso e sangue era perturbador.

São fotos tiradas da net, que eu cá só conseguia pensar em sair dali



Também houve o dia em que sem querer, entrei no Mercado Sonora.
Justamente uns meses antes, tinha lido na página de facebook P3, um artigo sobre este curioso mercado. Basicamente, é um tudo em 1!
Ou seja, nas zonas logo à entrada, dá-nos a ideia de um mercado comum, com bancas de fruta, legumes... mais atrás a zona de vestuário... e depois... ZÁS! Um braço ao lado das maçãs, uma ossada completa por baixo dos casacos... aquele artigo descreveu-me algo que na altura, achei ser fantasioso e claramente mentira. Mas por via das dúvidas, decidi nunca ir lá.
Mas quis o destino que eu, desconhecendo a zona em que me encontrava, entrasse num simpático mercado que se revelou ser o Mercado Sonora.
E tudo o que li naquele artigo, ganhou vida, apesar do meu ar incrédulo.
Vi um senhor a ler o futuro com 4 ossos no antebraço. Ossos esses comprados a um coveiro (negócio muito comum no México; os coveiros avisam os santeiros quando há enterros e recebem encomendas, sejam elas de cinzas, ossadas, ou corpos frescos e vendem sem conhecimento das familias). E dizia ele à sua cliente, muito descontraidamente, como quem fala do aumento do preço do pão, a propósito de um tiroteio naquela manhã, "Eu ainda lá passei antes de vir trabalhar a ver se via sangue fresco no chão. Para apanhar com um lencinho, sabe? Dá-me sempre jeito esse material".
E como se isto não fosse suficientemente surreal, ainda vi um corredor cheio de animais para sacrificil. Desde galinhas, a cabras, a gatinhos bebes. Doeu-me profundamente aquela imagem e mais uma vez, sabendo que eu não posso fazer nada naquele país.

Mudando de assunto: igrejas.
O culto católico também é levado de forma engraçada. O menino Jesus, por exemplo. Para eles é um menino e portanto necessita brinquedos:


Poderia contar mil coisas mais, mas prefiro ficar-me por aqui.
Tudo é demasiado pesado e inacreditável.

60 Dias de Gratidão# 50

Que lição agradeces hoje?

Não és culpado do que fizeram contigo.
Mas és responsavel pelo que fazes com o que fizeram contigo.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Do México XVIII

Do choque II

O México tem elevada criminalidade. Ninguém tem escrupulos e parece que todos vêm como algo banal tirar uma vida.
Logo, infelizmente, não foi com espanto que descobri que no dia de São Judas Tadeo, o caos se instalava nas cidades. Ao parecer, este santo é o padroeiro dos criminosos. Então neste dia, é ver carros blindados, homens armados, a despejar oro nas igrejas nos altares do referido santo e ainda o passeiam pelas ruas, no metro, em moto... Enfim, parece que é motivo de orgulho afirmar-se como criminoso e deliquente.





Sim, eu sei... é impossivel acreditar nisto. Se eu não visse com os meus próprios olhos consideraria anedota. E na verdade, mesmo depois de ver, continuo sem compreender como é possivel!

60 Dias de Gratidão# 48

Que hobbie agradeces hoje?

Na verdade não tenho hobbies.
Desde criança que queria fazer tudo e depressa me aborrecia. Desistiram de me inscrever no que fosse!
Música, equitação... o meu interesse não superava as 2 semanas por nada.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Dica de sobrevivência mental:

Desde finais de Março que não vejo noticias, sejam elas Telejornais ou artigos escritos.
E sabem que mais?
Bem diziam por aí que a ignorância é o melhor estado de espírito!
Noto-me mais calma, positiva e equilibrada.

60 Dias de Gratidão# 47

Que defeito agradeces hoje?

Pois eis que temos de os aceitar e encaixar.
Ser ansiosa.
Em momentos de stress reajo sem pensar e torno maiores, situações que poderiam ser minimas.

sábado, 18 de abril de 2020

Do México XVII

Do choque

Reparo agora que talvez tenha passado mais tempo no México a queixar-me que a desfrutar.
Mas realmente tinha muita dificuldade em digerir tudo o que via.
As crenças que eles têm são algo que me despertava julgamento, que me incitava a apontar o dedo, que me fazia sentir superior, mais educada, mais civilizada.
Foram tantos momentos em que os quis matar, gritar se acaso desconheciam que estamos no século XXI, que perdi a conta! 

Como o dia que na cidade de Mérida, esbarrei com isto:


Maquech.
Intrigada, perguntei à vendedora que coisa curiosa era esta.
"Alfinetes de peito", dizia ela sorridente.
E seguiram-se vários minutos em que eu perguntava "Como??" e ela repetia "Alfinetes de peito".
Juro que não estava mesmo a compreender. Por momentos duvidei da minha compreensão do espanhol. 
Até que lá conseguimos sair deste caos repetitivo e ela me explicou que isto é o último grito da moda naquela região. Resumindo: pegam em escaravelhos vivos, cravejam-lhes pedras coloridas, bijuteria ou, se a pessoa for rica, pedras preciosas (com eles vivos, sim) e depois mete-se um alfinete agarrado ao bicho e... txaran! Pronto para ser alfinete de peito, andar em blusas e casacos até que inevitavelmente, morrerá de fome e compra-se outro.




Óbvio fiquei indignada!
Chamei anormal à vendedora, disse-lhe que aquilo era crime, quis esganá-la mas depois o marido lá interviu e explicou-me que ali, aquilo era legal. Que ali os direitos animais ainda eram utopia. E que ali, eu era apenas uma doida a dizer coisas que não faziam sentido a mais ninguém.
Ali eu soube o que era impotencia!

60 Dias de Gratidão# 46

Que experiencia agradeces hoje?

Ter vivido 7 meses no México.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Depois de 1 mês

Iniciei o isolamento por decisão do meu empregador, a 11 de Março.
Pouco mais de 1 mês depois posso-vos dizer que:

- As primeiras duas semanas foram de depressão, medo, angustia e ansiedade. Foi o inicio do caos. Tinha muitos medos relacionados com o emprego e o salário. Preocupava-me apenas e somente a minha subsistencia (o vírus em si, não). Após 2 semanas de choro, taquicardia, insónias, a minha chefia disse-me que só se a própria instituição fechasse portas é que ficariamos (empregados) desamparados. De outro modo, todos nos manteriamos unidos, com salário a 100%. A partir daqui, meus amigos, uma nova Raven nasceu!

- Eu gosto de estar em casa. Sempre fui muito caseira. E vivendo numa cidade que não gosto particularmente, onde sempre tive muitas ocupações, a vontade de andar a lorear a pevida não é muita. Gosto de silencios, de ver novelas, ler livros. Coisas simples que se fazem por casa. Portanto, agora e sem medos, estou preparada para uma Quarentena até 2050!

- Nos últimos tempos tenho aproveitado para cantar mantras, meditar, fazer cursos de desenvolvimento pessoal, fiz um Instagram (que não tinha), falo por video chamada com os meus amigos, repenso os meus sonhos e ambições, converso comigo mesma e questiono se estou onde quero estar. Têm sido dias tranquilos.

E vocês?

60 Dias de Gratidão# 45

Que palavra agradeces hoje?

Ressoar.
A minha favorita.
A que faz mais sentido.
Faz somente aquilo que ressoe contigo. Seja ou não racional.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Momento lindinho do dia (quiçás da Quarentena)

Uma ex-colega de escola que não vejo há uns 13 anos, possivelmente, escrever-me e dizer "Fiz um trabalho inspirado em ti e quero oferecer-to".
Ela é ilustradora na Roménia e quando abro o meu mail tinha a ilustração mais liiiinda do Mundo (não partilharei aqui por questões de direitos de autor ou porque se a identificar depois ela pode descobrir o blog ou coisas do estilo), em que apareço eu e o Marido, em desenho animado perfeito e colorido, a abraçarmo-nos, sendo que eu estou a sair do ecrã de um computador para os braços dele.
Gostei tanto que mandei logo a ilustração ao BFF do esposo e pedi-lhe que faça um quadro e lho leve de surpresa a casa.
Estou aqui ansiosa para ver o resultado final e a reacção dele!

60 Dias de Gratidão# 44

Que qualidade agradeces hoje?

Ser boa ouvinte.
Fundamental para o meu trabalho, para manter amizades e o casamento.

domingo, 12 de abril de 2020

Sogras!

Da fama de bruxas não se livram elas!
E infelizmente, grande parte das vezes bem que a merecem.
Numa relação do passado, tive uma sogra que se aliava a uma cunhada e entre as duas davam cabo de mim! Pareciam filhas do Demo e foi uma experiencia pavorosa. Eu tinha até sintomas fisicos quando, por acaso, as via na rua. Era euzinha a correr para um wc, tal não eram os dramas estomacais que se me caiam em cima.
Actualmente, Deus foi mais simpático comigo e meteu um oceano entre mim e a minha sogra.
No inicio, ela até era bem simpática. Acolheu-me de forma excelente desde o primeiro dia e tudo corria bem. Até casarmos... até o filho casar com a estrangeira que é conivente com os ideais dele que ela nunca aprovou e sempre esperou que fossem passageiros.
O meu marido é um ateu convicto que sempre jurou que não casaria. E a mãe dele, mexicana 100% raça pura (com o machismo incluido) que sempre achou que isto lhe passaria no futuro, quando encontrasse uma boa moça casadoira que o fizesse assentar nos valores de Deus e da Familia. Eis que lhe sai eu na rifa! Casar até casamos... os dois num registo civil. Sem convidados, sem vestido. Ela bem tentou de forma beeeeem insistente, convencer-me a aceitar como prenda um vestido de noiva. E bem tentou de forma aiiiiinda mais insistente, que aceitassemos pelo menos um almoço de familia. Ambos dissemos que não.
Pior mesmo foi o dia que o Marido saiu de casa com um blazer, segundo ela, amarrotado. E a senhora vira-se para mim, euzinha, e tem a audácia de me dizer "Viste? Não te dá aflição?".
E eu perdida, olhava em redor, pensando que eventualmente estariam a espancar alguma velhinha na esquina. "Aflição de?".
Ela: "O blazer do meu filho. Esta amarrotado! É tua função como esposa garantir que ele ande sempre limpinho e apresentável. Uma boa esposa mexi..."
É que a cortei logo! "Da última vez que verifiquei ele tinha as 2 mãos. Portanto, ele fará apresentar-se da forma que lhe parecer melhor a ele. E recordo-lhe que não sou nem nunca serei mexicana".
Desde aí que ela me observa com estranheza, como se fosse alguma ave exótica. E vão sempre surgindo as observações, "Porque não comes a nossa comida? Agora és mexicana". Ou "Não critiques aquele que agora é o teu país". E eu sempre a cortar "Não, é o país do meu marido. O meu é outro". Ou "Não aprecio a vossa comida. O seu filho também não chega a Portugal a sonhar com bacalhau".
Assim vamos levando a coisa enquanto o stress dela aumenta.
A sua última invenção passou por fazer ao filho um jantar surpresa de aniversário, sendo que ele detesta surpresas. Independentemente da opinião pessoal de cada um, há que respeitar a postura dos outros; se ele não gosta de surpresas, não as deverá fazer, certo? Mas ela fez. Fez e da seguinte forma: convidou apenas 4 amigos dele e 12 amigos dela. Como nas festas infantis, sabem? Quando o vosso filho faz 1 ano e obviamente os convidados são a familia e amigos dos pais. Assim fez ela. E no fim os convidados DELA bazaram sem pagar e o aniversariante terminou a noite a pagar uma super conta por ter alimentado gente que vê 1x há década. Imaginem a briga que foi entre eles depois, não é?!?
Percebo que se sinta deslocada com a nova realidade; o filho casou, saiu de casa, tem uma nora duma cultura que lhe é estranha... mas caramba! Faz parte da história do Mundo, os pais adaptarem-se à saída dos filhos do ninho.
Só lhe desejo boa sorte!

sexta-feira, 10 de abril de 2020

!!



Tantos sorrisos por aí e você querendo o meu
Tantos olhares me olhando e eu querendo o seu
Eu não duvido não, e não foi por acaso
Se o amor bateu na nossa porta, que sorte a nossa

60 Dias de Gratidão# 42

Que inspiração agradeces hoje?

Anne e Vicente Ferrer.
O trabalho deles é o meu exemplo perfeito de dedicação.
Para quem não conhece, dê um olhinho AQUI

terça-feira, 7 de abril de 2020

Do México XVI

[continuação...]



Ainda o sumo ia a meio, e eu já me estava a sentir enjoada. Lá ia tratando de tirar aquela coisa alapada às gengivas com a língua enquanto os anfitriões explicavam que por favor, tentassemos praticar técnicas de respiração e que não vomitassemos em menos de uns 40min, para que o Peyote pudesse começar a fazer efeito. 
Maltinha, só vos digo... eu foi acabar de beber aquilo (depois de muita ajuda de aguinha, porque aquela porra agarrava-se-me às gengivas e recusava descer) e pensar "Está calor... e estou enjoada... ai, se calhar devia ir esticar as pernas e afastar-me do lume".
Gente... foi andar 10 metros e... blergh!!!!
Só vi toda a gente a olhar para mim com os seus baldinhos de vómito ao lado enquanto eu gregava a roseira lá do sitio.
De vergonha afastei-me mais um pouco.
Pensei, "A sério? Tão rápida? O meu corpinho expele logo a droga exótica?!?". E esperei as alucinações. As quais teriam sido muito bem vindas ao contrário daquilo que realmente veio: correr para o wc.
Só vos digo que se seguiu 1.30h de entrar e sair do wc, num dueto entre a diarreia e o vir cá fora vomitar mais roseiras.
1.30h de angustia, em que eu não sabia se o que estava a sentir era normal, se devia ligar para o 112 ou que raio!
Momento de crise: entre diarreia e vómito e a simples manga que tinha comido, entra-me uma fome voraz. Resultado: eu sentada na sanita a comer amendoins (foi o que encontrei) e a rir-me de mim mesma. Sim, deu-me para rir da desgraça, sozinha, no wc.
Quando FINALMENTE me senti melhor e me juntei ao grupo, lá vem o anfitrião que eu odiava, "Vomitaste muito rápido, toma mais Peyote". 
Não vos consigo explicar a minha cara de asco...
O anormal insistia "Toma! Para que te faça efeito. A ver se aguentas mais agora antes de vomitar!".
Nem respondi... virei costas e fui-me deitar no meu saco-cama.
Então eu aguentei aquela porcaria no bucho 2 singelos minutos que deram origem a 1.30h de vómito e merda e ele quer que eu volte a "tentar"?!? Tá doido?!?
Eu só sentia alivio e dor abdominal de tanto estar dobrada a gregar as roseiras. 
Nisto o Marido vem ter comigo, aproveita pra me fazer bulling porque fui a primeira a vomitar, ainda por cima num espaço comum e que todos me viram, e diz-me que está cheio de sono, que não está a sentir nada diferente e que já uns quantos choraram e falaram sozinhos enquanto eu estive ausente.
Ficamos ali juntos, quando ouvimos um grito. E lá começa uma mulher a chorar, mas de forma intensa... um gemido, um grito, um choro que mais parecia o uivar de um animal ferido. E nisto levanta-se um tipo com pinta de indio, cabelo longo, roupas hippies, com uma pluma na mão e começa a girá-la em cima da cabeça da mulher que uiva.
Mais ao lado, um tipo estava de pé, olhos fechados, a abanar-se como quem está num festival de transe.
E assim se passou a noite, em que eu e o Marido só tentavamos abafar o riso, admirando estupefactos tudo aquilo.
Amanheceu. Eu pensei "Finalmente! Bora para casa!". 
Mas o show continuou. Toca a levantar todos e a agradecer ao sol com uma coreografia especifica.
Eu aproveito para averiguar as carinhas do pessoal. Era tudo a chorar, emocionado. 
Depois deram-nos un chá e pude observar como as pessoas partilhavam experiencias, outros afastavam-se para chorar e todos contavam coisas que ao parecer, foi óbvio para muitos, mas não para mim.
Depois era suposto termos um pequeno-almoço comunitário e partilhar visões mas eu e o Marido entre-olhamo-nos e ele lá lançou um "Aaaaaah que pena! Adoravamos ficar mas eu tenho uma reunião com o meu sócio. Tenho taaaaanta pena mas temos de ir". E lá saimos, mediante o olhar reprovador do anfitrião que eu odeio  (que ainda teve o desplante de me dizer que eu vomitei logo porque sou europeia e não estou preparada para a energia potente dos indigenas americanos), e com muitas indicações: "Não comam nada pesado! Só frutinha. Porque o Peyote fica no organismo até uma semana mais e podem ter sonhos esquesitos, revelações, vómitos... cuidado!".
Nós: "Claaaaaaaro!!".
Pessoal... em 30min estavamos a parar num restaurante e eu comi um frango assado inteiro sozinha!

Resumindo: se as plantas sagradas têm algo de estérico, não sei. Eu senti-me num grupo de drogaditos, amaldiçoei o momento em que decidi pagar por algo assim, chorei pelas economias perdidas nesta tontice, ri-me perante a lembrança de mim a comer amendoins na sanita e andei 2 dias com o nariz irritado a assoar Rapé.

O sitio onde tudo aconteceu




sábado, 4 de abril de 2020

Do México XV

Peyote


Já aqui tinha mencionado ISTO

A mais famosa das ervas sagradas é a Ayhuasca, nativa da Amazónia.
Aqui em Portugal também se fazem inúmeros retiros com esta planta, a cada fim-de-semana.
Para quem não sabe o que é isto das plantas sagradas, basicamente é um conjunto de ervas, cactos, flores, que contém determinadas toxinas e supostamente, elevam a consciencia de quem as toma.
Podem ser mastigadas, trituradas e metidas num sumo, snifadas...
Sobre este tema há muitas opiniões! Desde pessoas que dizem que isto nada mais é do que uma droga natural que causa alucinações, a gente que afirma que teve experiencias reveladoras durante este processo.
Confesso que como reikiana que pratica meditação desde 2013, sempre me cativou este tema e sempre quis experiementar. Mas estes eventos não são baratos além de que o preço a pagar para elevar a consciencia, inclui primeiro reações biológicas como vómito e diarreia.
Contudo, agora que vivi no México, surgiu a oportunidade. Eles lá têm também uma planta sagrada, o Peyote.
Este é um cacto que nasce no deserto e que é usado desde tempos longínquos pelos indígenas para se comunicarem com certas entidades.
No México eu fazia meditação com um tipo que usa estas plantas e faz retiros com elas a cada 3 meses e convidou-me.
Lá fui eu e o Marido.
Primeiro, 7 dias antes do grande dia, há que fazer uma dieta vegetariana, livre de alcool, açucares e processados.
No dia em si, não podemos comer depois das 18h e o evento começa as 19h.
Lá fomos nós no dia estipulado e assim que entrámos, demos de cara com um grupo de pessoas muito diverso (homens, mulheres, velhos, novos e assim assim, indigenas, citadinos, hippies, homens de negócios). Fomos recebidos com um chá e a indicação de que antes de tomarmos a erva sagrada, deveriamos passar ao Temazcal (uma espécie de sauna pré-hispânica).



Como podem ver, são estruturas de pedra ou barro, pequenas, baixas, duras. E no meio há um buraco onde estas pedras em fogo vivo são colocadas para emanar calor


Eu já tinha experimentado o Temazcal em duas ocasiões e sabia que detestava tal coisa.
Eu dou-me mal com o calor e tenho alergia ao suor (sim, é estranho mas real), logo para mim é uma experiencia dispensável, que só me causa mau estar e quebras de tensão.
Portanto eu recusei participar desta actividade. 
A cerimónia das ervas sagradas era presidida pelo meu guia de meditação e outro tipo que se achava o mais mexicano de todo o sempre, o Mexica originário e lançou-me um "Mas nunca fizeste o Temazcal comigo! Portanto não podes dizer que não gostas!". Levou com "O calor e o meu mau estar existem para alem de si". Ao que o tipo revidou "Portanto és daquelas que para cada problema na vida desiste. Achas que assim chegarás a algum lado?". 
Não preciso dizer-vos que ficou logo aquele ódiozinho no ar entre nós, não é?
Eu mantive-me firme. Ele manteve a sua cara de azia.
Enquanto eles foram fazer o tal Temazcal (Marido incluido), eu aproveitei para comer. Sim... não podiamos comer depois das 18h mas... entretanto deram-se as 20h, o tipo que eu fiquei a odiar avisou que o Temazcal demoraria 2h... enfim! Comi algo leve, para que a infração fosse menos grave! Comi manga. 
E esperei... revi o facebook, falei por whatsapp...
E lá acabou o raio do Temazcal.
Aquela gente toda (eramos cerca de 30 pessoas) foi tomar um duche rápido e lá começamos a estender os saco-cama (sim, porque iamos todos tomar o Peyote em redor de uma fogueira, ao ar livre e ali permanecer toda a noite, com os 2 anfitriões a cuidar-nos, pois o esperado é que alucinemos, vomitemos, cag*****, gritemos, choremos... sei lá!).
Eu estava nervosa! Primeiro, porque sou mentalmente muito forte. É rarissima a vez que logro meditar. Segundo porque nunca sequer experimentei um charro... portanto, não faço ideia do que seja estar ou sentir-me fora de mim. Terceiro, o pânico de achar que me ia vomitar e borrar toda ali no meio de estranhos. Este nervosismo aumentou quando os anfitriões começaram a distribuir baldinhos para vómito a cada pessoa.
Para iniciar a cerimónia, fomos introduzidos ao Rapé. Basicamente, Rapé é uma mistura de tabaco moído com menta e deve ser snifado antes de tomarmos qualquer planta sagrada. 
Ora eu passei-me logo! Eu sei lá snifar coisas! E não será desagradável? E fará sangrar o nariz? 
E enquanto eu olhava desconfiada para o Rapé, o meu professor de meditação ia-me distraindo e aproximando uma espécie de palhinha metálica do meu nariz e eis que, sem mais, pimba! Me sopra o rapé nariz adentro! Vá lá que só foi uma narina! Porque eu comecei a tossir, abanar os braços como doida, ainda lhe derrubei uma taça de Rapé, enquanto dizia "Mais não! Mais não! Cof cof!!". 
Credo! Eu para toxicodependente não dava!
Posto isto, lá nos deram o raio do Peyote, no caso, cacto triturado misturado com sumo de laranja. Supostamente a ideia é melhorar o sabor e textura da erva sagrada mas é tudo mentira! O raio do cacto é espesso, amargo e o que acontecia é que a cada gole, o sumo descia e o cacto triturado ficava agarrado as gengivas, tendo eu de o mastigar e empurrar goela abaixo.

[continua...]

Sabadou!


Well, there's broken silence
By thunder crashing in the dark (crash in the dark)
And this broken record
Spin endless circles in the bar (spin 'round in the bar)
This world can hurt you
It cuts you deep and leaves a scar
Things fall apart, but nothing breaks like a heart
Mhmm, and nothing breaks like a heart

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Fit Quarentena

E de repente, do tédio, nasce até vontade de regressar ao yoga abandonado desde 2018! 

Ontem fiz também uma série de abdominais, exercicios de braço, pernas e rabo.
Continuo a tomar muito chá detox.
Retomei a meditação para me ajudar com a ansiedade e os medos.
Fiz um Instagram! Já estou pró naquilo.

Teletrabalho... cada vez menos. Sou péssima a impôr-me responsabilidades e a gerir obrigações.

Fiquem bem, pessoal!

60 Dias de Gratidão# 41

Que propósito agradece hoje?

O de ser melhor cada dia.
Ter consciencia das minhas falhas, arrogancias, erros e tentar trabalha-los sempre.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Do México XIV

Morte

Os mexicanos acreditam que a vida é uma passagem, que a reencarnação não existe e que os nossos entes queridos ficam "do outro lado do véu", a observar-nos, a guiar-nos, a dar-nos orientação, conselhos, proteção.
A coisa é de tal forma em sério, que nos programas de televisão, debates, tertúlias, ao lado do especialista do tema (seja ele um psicólogo, economista, etc) está sempre uma cartomante, vidente, angeóloga.
Eles acreditam mesmo nestas coisas e trabalhar com oráculos ou mortos é uma profissão real e levada a sério no México.
A parte boa deles verem a morte como algo normal e aceitável é que a encaram com grande sentido de humor.
Recordo a primeira vez que visitei um cemitério e dei de caras com uma família a lanchar em cima de um túmulo, com músicos ao vivo e tudo. Lá me explicou o marido que devia ser o aniverário do morto e que celebrá-lo daquela forma, como se estivesse vivo era nomal.
Os túmulos de crianças, por exemplo, são decorados com balões e peluches todo o ano.
Aqui vos deixo alguns túmulos "divertidos".



















60 Dias de Gratidão# 40

Que oportunidade agradeces hoje?

A que tenho actualmente. A de ter podido entrar a trabalhar na área para a qual estudei, 17 dias depois dir buscar o diploma.