sexta-feira, 15 de maio de 2020

Do medo que descamba em filhaputisse !

Tenho visto por aí malta que diz que isto da solidariedade em tempos de Pandemia é um tiro no pé, porque "ah e tal, não sabemos o que aí vem e eu também posso precisar e depois ninguém me ajuda", (ninguém ajuda cabrões egoistas, não é mesmo?); ou "Eu tenho filhos / pais / tios / primos / periquitos e temos que ajudar é os nossos" (excelente pensamento... diriam as familias monoparentais tão em moda actualmente).
Eu consigo compreender o medo do futuro, a incerteza. A sério que sim. Mas vá lá... não permitam que o medo ganhe a melhor e vos transforme em Filhos da P***
A verdade é que justamente por não sabermos o que aí vem, importa pensar que amanhã poderemos ser nós a precisar de uma mão amiga. E não gostariamos de a receber?


Há dias, quando fui ao supermercado, reparei num bilhete escrito à mão, na vitrine de um negócio.
Uma senhora oferecia-se para passear cães, ir a farmácia, fazer recados a troco de comida.
Caraças... mandados a troco de comida...
Lá fui à minha vida, trouxe o meu saco cheiinho de coisas para a minha casa aconchegante, com Tv cabo, wifi, fiz o meu café na minha máquina XPTO, comi bolachas e guloseimas... e algo não me deixava em paz. Não conseguia deixar de pensar naquele bilhete.
A senhora seria jovem? Estaria sozinha com um bebe? Seria uma idosa de muletas?
O egoismo ainda tomou a frente por umas boas 2h. Até que sai disparada de casa e fui ver do tal bilhete. Liguei ao número escrito à mão.
Descobri do outro lado uma mulher com apenas mais 2 anos do que eu. Sem familia (poderia bem ser eu...). A viver de favor em casa de uma amiga também ela desempregada. Com um discurso forte, positivo, cabeça erguida. Sem exigencias. Apenas gostaria de um pouco de comida.
Falei com a minha rommie e lá fomos levar-lhe um pouco do que tinhamos cá em casa (lembrando que eu ganho 500€ por mês e a minha rommie ficou desempregada entretanto). Conseguimos também através de um amigo do amigo do amigo um contacto improvável: um pastor evangélico que tinha uns cabazes guardados de um evento solidário feito não sei quando. Lá arranjamos um cabaz à moça.
E para minha surpresa e felicidade, disse-me a mesma que no dia seguinte mais pessoas aqui do bairro lhe ligaram a dizer que tinham visto o bilhete e oferecer apoio.
Quando queremos, a magia acontece!

5 comentários:

  1. A magia existe, só não lhe podemos fechar nem a porta nem os olhos!

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  2. E é tão bom, ver que pequenos gestos, confortam o coração daqueles que precisam . Se todos fossemos como tu, o mundo seria um mundo melhor !

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    1. Oh... obrigado! Faço o que posso e não o que gostaria. Ser boa pessoa é uma escolha diária e nem sempre fácil. Maus todos somos. Bons alguns.

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  3. Provavelmente as pessoas que pensam como descreves no início nunca passaram dificuldades porque quem passou dá sempre o que pode mesmo que seja pouco. E ver alguém pedir simplesmente comida é de partir o coração a qualquer um. Mas gosto de pensar que os portugueses são na maioria pessoas como tu e as outras que ligaram para a rapariga que vocês ajudaram, pelo menos é isso que se reflecte tanta vez quando é preciso ajudar nos incêndios e outras situações.

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  4. É verdade! E foi um gesto muito bonito o teu. Cada vez acredito mais que quem menos tem é quem mais ajuda. Continuo a acreditar que se todos ajudarmos um pouco, então não custa a ninguém.

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