terça-feira, 3 de março de 2020

Da parentalidade tóxica

Tenho duas amigas em situações muito sensiveis, onde se sentem frustradas, longe da realização pessoal por causa das mães.
Uma, apenas tem um extremo receio de deixar a mãe, viúva, sozinha. Têm muito amor uma pela outra e ela prefere ficar numa cidade que já nada tem para lhe dar, num emprego precário, aos 34 anos do que deixar a sua "amiga". Acho nobre mas irracional.
Já dizia Saramago, que os filhos são um empréstimo da vida. Todos crescemos e é suposto ganharmos asas. Nunca vou entender este tipo de dependencia.
Mas certo é que por mais que ela se vá queixando de não conseguir ir mais longe, fá-lo altruistamente; a mãe nunca lho pediu nem a travou propositamente.
Já o segundo caso é mais grave. A minha outra amiga tem uma mãe chantagista, tóxica, má. Diz-lhe que se mata se la sair de casa. Resultado: vive numa cidade sem vida, recusa todas as oportunidades na área para a qual estudou e convenceu o namorado a viver com ambas, uma vez que ela não pode casar / juntar-se e partir como seria expectavel. Para sua sorte ou azar, o rapaz é bondoso, ama-a, e aceitou.
E a mim, resta-me vê-la chorar, ter crises de ansiedade devido a esta chantagem diária mas ser incapaz de fazer o que seja porque... "É minha mãe".
Não, o sangue não é desculpa para tudo. Se o filho deve sempre entender e aceitar o pai, este também deve SEMPRE entender e aceitar o filho, não?

5 comentários:

  1. Que situações tão tristes.
    Ninguém merece tal castigo.
    Mãe é mãe.
    Mas, como disse chega um dia e temos de voar.
    O segundo caso é mesmo doentio.
    Mães assim ninguém as merece.
    Um abracinho para elas.
    E tentem se libertar.
    Existo um mundo tão belo.
    Para apreciarem.
    Com novos viveres.
    Sem medos.🌼
    Megy Maia

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  2. Tenho uma visão diferente da tua e acho que isso se deve à forma como fomos educadas e como vemos a família. Na minha família existe o conceito de "os mais novos cuidam dos mais velhos". Vi as minhas avós cuidarem dos meus bisavós quando estes precisaram, vejo os meus pais a cuidarem dos meus avós quando estes começam a precisar, e eu sei que um dia no futuro será a minha vez de cuidar dos meus pais. Por isso consigo compreender a tua primeira amiga, não é dependência, é uma sentido de família diferente, de cuidado. Se os meus pais agora precisassem que eu fosse para junto deles para cuidar deles, a hipótese de largar tudo aqui e ir para ao pé deles seria fortemente posta em cima da mesa.
    Contudo também conheço uma família onde os da minha geração dizem à boca cheia que os pais é que têm de tomar conta deles e não eles dos pais (que às vezes bem já precisam da ajuda dos filhos para coisas simples). E os filhos destes pais da minha geração crescem a ouvir isto. Estou convencida que quando estes pais forem mais velhos, estas crianças de agora não vão querer saber deles e aí perceberão que estão a colher o que semearam durante anos.
    Já o segundo caso que relatas é de facto mais grave e também incompreensível para mim.

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    1. O segundo caso passa claramente por uma pessoa que foi mãe por motivos egocentricos e não faz ideia do que é o amor. Pessoas manipuladoras são assustadoras. Umas quantas vezes encontrei a minha amiga a chorar de pressão, à porta do prédio. Imagina que a leva ao extremo e um dia se torna daquelas pessoa que se mata? Esta gente não tem noção do estrago que pode fazer nos filhos.
      O primeiro caso... eu entendo-te. Acho nobre, acho que tens razão... ainda que eu fosse incapaz de o fazer. Eu não largaria a minha vida noutro país por isso e menos se tivesse marido e filhos. Pois para cuidar de uns descuras outros. Esta questão é muito estudada em Serviço Social, pois é um pau de 2 bicos: antigamente as mulheres sacrificam-se e ficavam em casa a cuidar dos idosos da familia (pais, sogros, tios...). Hoje em dia isso é impensavel. E repara que nenhum homem fica em casa a cuidar os pais, continua a ser a mulher. Hoje em dia, já temos mais direitos, mais fome de direitos. E o dinheiro já não rende tanto... numa familia são precisos os 2 salários sim! Mais se viveres em cidades grandes, como Lisboa, onde um infantario pode custar 300€ mês. Portanto a resposta social adequada seria a existente no norte da Europa, apostar em lares dignos (o que em Portugal é mito, eu sei...). Mas que nos anulemos pelos nossos pais não pode também ser opção. E os nossos filhos?
      Mas no caso da minha amiga, a mãe dela está em meia idade, com saúde, trabalha, é activa, viuva já há 10 anos... não há motivo para a minha amiga estar a desaproveitar-se num sitio pequeno, sem emprego, sem futuro.

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    2. PS: outra coisa MUITO importante: a idade em que és pai. Antigamente aos 50 começavas a cuidar dos teus pais que teriam 70... Hoje em dia um pai de 70 tem filhos de 20 e 30 anos... na minha familia, já todas as mulheres foram mães entre os 35 e os 40 (falo das minhas tias). A última geração (a minha) ainda nem ninguém se chegou à frente e já tenho 31 e por aí vai...

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  3. Confesso que não sei se seria capaz de partir e deixar a minha mãe. Sou muito ligada a ela. Juntei - me com o meu namorado quando a minha avó ainda era viva e elas tinham a companhia uma da outra, mas se fosse para a deixar sozinha custar-me-ia muito mais. Compreendo o que dizes. Mas também compreendo a tua primeira amiga

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