Agora sim, com calma,
vou-vos falar do Nino.
Na terça-feira fui às
compras com uma amiga e esbarramos com este gatinho. Estava todo ranhoso,
respirava com muita dificuldade, tinha sangue no peito e um olho cegado.
Ficamos comovidas, sem
saber o que fazer.
Felizmente, saiu uma
senhora de um café que nos apaziguou e explicou que o gatinho tinha aparecido
assim há coisa de 15 dias e que ela, com pena, o alimentava, não fazendo mais
por falta de dinheiro. Mas era visível que ele necessitava de cuidados médicos
veterinários urgentes!
Como agora faço parte
da Associação Animal cá da cidade, liguei logo à Presidente a explicar o
sucedido e se haveria algo que pudéssemos fazer. Como já calculava, ela alegou
que a Associação está mais que lotada e que não havia como recolher o pobre
gato mas que, se surgisse uma FAT (Familia de Acolhimento Temporário), a
Associação suportaria a despesa veterinária.
Fiquei super feliz e
vim para casa falar com a minha mãe. Para não variar, houve gritos e um convite
para que eu saísse de casa. Enfim, gente ruim há em todos os lados, até a viver
connosco.
Pedi ao meu namorado
(fica para outro post) e ele acedeu a que o Nino (nome colocado pela senhora do
café que o alimentava e ao qual ele responde perfeitamente) ficasse em sua
casa. O único problema é que o namorado sai de asa às 7h e regressa ás 19h.
Logo, optei por me mudar temporariamente, para cuidar assim do pobre felino.
Combinei com a senhora
do café que no dia seguinte, ás 11h, iria buscar o Nino para o levar ao
veterinário e ficar logo com ele. O problema surgiu quando o Nino se viu nos
meus braços, sem me conhecer e, tendo pânico de pessoas, começou a contorcer-se
todo, a arranhar-me e fugiu. Eu entrei em pânico!! Só chorava! Não podia acreditar
que tinha tirado o Nino de uma rua onde o alimentavam para agora se perder por
aí, sem comida, com uma ferida aberta no peito. Senti-me tão culpada!
Corri e corri, de rua
em rua, de carro em carro (dói-me os joelhos de tanto me ajoelhar nos paralelos
a espreitar debaixo de cada carro). Foram buscas e buscas das 11h até ás 20h.
Sozinha. Porque toda a gente achou que eu estava a exagerar e que era “apenas” um
gato. E portanto, as únicas 3 pessoas que me ajudaram, desistiram logo pelas
12.30h.
Eu corri aquelas ruas,
sozinha, em lágrimas, gritando “Nino! Nino!”. Até que o encontrei dentro de um
motor de um carro, já perto das 20h. Toda eu tremia de emoção e alivio. A minha
única refeição tinha sido um palmier às 14h. Tinha fome, frio, nervos, peso na consciência.
Telefonei ao namorado a pedir ajuda, ele lá veio com um transportador e lá o
resgatamos. Seguimos directo para o veterinário.
Diagnóstico: o Nino sofreu
muito, algo inimaginável. Partiram-lhe todos os dentinhos, resta apenas um canino.
Nunca na vida poderá comer ração, apenas latinhas e paté. O olho esquerdo está
muito danificado, está cego. Estamos a pôr-lhe uma pomada para ver se há alguma
possibilidade de reverter a situação mas é pouco provável. Tem uma constipação
muito grave, tendo as vias respiratórias obstruídas. Cada vez que respira, saem-lhe
bolas de ranho. A ferida no peito não sabemos como terá sido provocada, talvez
com uma pistola de pressão de ar, mas já está a cicatrizar. Quanto há idade há
muita incoerência. A veterinária aposta em 1 ano e meio, já o seu chefe aposta
em 10 anos. Enfim… Prefiro acreditar que seja jovem e que tenha sido resgatado
numa boa altura e não que tenha andado toda uma década aos pontapés. Como
calcularão, tem medo de pessoas. Passa o dia debaixo da cama mas assoma-se
quando o chamamos. Come bem e parece estar a ganhar confiança.
Agora terei muito pouco
acesso à net, só quando venho a casa visitar o meu Eros. Mas sempre que puder
dar-vos-ei noticias.
Vamos torcer pelo Nino!