sábado, 11 de dezembro de 2010

Zona de desconforto


Uma amiga disse-me que tinha medo de ser independente, de sair da sua zona de conforto e protecção.
O meu cérebro, implacável, começou logo a girar furiosamente em torno de tal afirmação.
Zona de conforto…
Quando temos um ambiente familiar desconexo e prejudicial a nós mesmos, um pai ditador que apenas nos dá dinheiro e só não nos atropela para não estragar a pintura da viatura, duvido muito que tal “zona de conforto” exista.
Eu sempre fui a chamada “princezinha”. Sempre tive tudo o que quis.
Na infância, até as minhas Barbies tiveram direito a sanita de porcelana e belos vestidos.
Na adolescência, tive todos os livros e conhecimento que quis obter.
Na fase adulta… percebi que isso tudo, que nunca me tinha feito feliz, estava agora a sufocar-me.
Não é fácil, eu sei. Abandonar o que sempre conhecemos como certo é algo assustador.
Mas se pensarmos que andamos a arrastar-nos numa lenta e vagarosa morte em vida, o cenário ganha cor. Ninguém quer morrer sem deixar a sua marca, ninguém quer ser apagado sem lembrança da face da terra.
Foi este pensamento que me levou há uma semana atrás a cortar os grilhões que me prendiam ao meu pai e me magoavam profundamente.
O meu progenitor acredita piamente que um bom pai é aquele que dá dinheiro, tecto e comida, ainda que maltrate psicologicamente e humilhe.
Não o odeio. Sinto pena. Pena porque, no fundo, ele acredita mesmo nesta forma odiosa de tratar os filhos; acredita seriamente que o pai, com o seu poderio económico, pode e deve ser uma figura ditatorial tratando os seus filhos de forma militar e dura.
Não o culpo, não o detesto. Simplesmente elimino-o.
O factor biológico cria laços incompreensíveis (é a única explicação para que durante anos eu tenha procurado de várias formas a aprovação e amor desta criatura desprezível). Contudo, a biologia não deverá jamais prevalecer ao nosso amor próprio.
Ninguém mais, além de nós mesmos, viverá a nossa vida. Por isso, para quê arrastar pessoas que parecem estar na nossa vida por favor e de contra vontade?
Não sou uma heroína, não sou corajosa. Sou apenas alguém com sede de viver.
Inacreditavelmente, não estou apavorada com o que se avizinha. Cortei com a única fonte de rendimento que tinha, acabei de ficar sem meios para pagar as propinas, a casa e a alimentação. E não obstante estou calma, inspirada, sorridente e com fé nesta nova fase, que não é por ninguém mais se não por mim.
Que venha o ano 2011 e tudo o que ele trouxer de bom e de mau.

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