domingo, 14 de setembro de 2014

Um Domingo em mau!


Não dormi nada e o pouco que dormi, sonhei com o passado.
“Só é inteiro quem um dia já foi cacos”. Gosto muito desta frase e acordei com ela em mente.
Juntei todos os meus cacos e exorcizei-os noite dentro. Vi, revi, senti, questionei, culpei-me, culpei, enchi-me de mágoa. E acordei triste, ansiosa, peito pesado, pensando no quanto queria voltar a dormir em conchinha contigo, com aquele teu hábito amoroso de me beijar as costas cada vez que eu me mexia. Beijaste-me as costas durante 3 anos. Cozinhaste para mim, deste-me banho. Saíste de casa por mim, enfrentaste as tuas raízes. Mas lamentaste-o. E eu sofri e tu sofreste. E entendo agora que só quando te perdoar, quando compreender a minha parte de culpa nisto tudo, quando aceitar e deixar ir, é que poderei respirar em paz.
Hoje, passados quase 8 meses do fim, tive um ataque de ansiedade. Faltei ao trabalho, fui às urgências, perdi o dia. Não chorei. Não tive essa vontade em momento algum. Simplesmente sofri, ansiosa e secamente. Acho que deve ser o que acontece quando aprendemos a viver com a dor. Ou quando simplesmente nos acostumamos.
Voltei para casa eram ainda 15h e deitei-me. Intercalei o sono com séries e dormi muito, senti-me zonza, sem forças, questionei a minha Vida, este recomeçar do zero nesta cidade, sem ninguém. Sou muito grata por poder recomeçar aqui, num sitio que gosto, longe de tudo. Mas ainda assim, tanta solidão, dá-me demasiado tempo para questionar. E ainda sabendo que nunca seriamos felizes, que coisas muito graves aconteceram e que o desfecho foi inevitável, dou por mim hoje a sentir tanto mas tanto a tua falta. Dou por mim fechada, selada, a desejar-te e a expulsar todos os que tentam aproximar-se.
Também terás os teus momentos duros em que a minha ausência não te deixa respirar? Por vezes, imagino que para ti seja ainda pior. Ficaste a viver na casa escolhida e mobilada por mim, com o trabalho que eu te consegui. Tudo em ti partiu de mim. Secretamente, desejo que estejas pior que eu, a sufocar, ainda a amar-me. Far-me-ia sentir menos mal. É mesquinhes, eu sei. E acredita que não quero ser mesquinha nem odiar-te. O ódio só serve para te manter vivo em mim de forma mais intensa que o amor.
Mas eu perdi hoje dinheiro, um dia de trabalho, por ti. E tu? Sei que jamais perderias um petisco por tristeza. És mais duro, muito mais duro. Não sei se é teatro, uma qualidade ou outra coisa, mas certo é que não deixas a tua rotina por ninguém. E deixa-me dúvidas: és muito forte e sofres por dentro ou simplesmente enterraste o passado e não te abala mais?
Eu sou assim, um pequeno espelho. Transbordo cada pedaço, cada recanto meu. Não consigo camuflar o sofrimento. E hoje dói demais.

PS: Vou voltar a fazer meditação uma vez por semana. Impressionou-me o meu grau de auto-ilusão. Nunca pensei que 8 meses após o caos, voltasse a cair desta forma, a passar um dia inteiro na cama sem ver o sol como se tivesse perdido a minha saúde, como se fosse ingrata perante tanta coisa que a Vida me deu após aqueles 3 anos. Faltei ao trabalho, que irresponsabilidade! O peso e o vazio que sentia apoderaram-se de mim fisicamente. Ainda me sinto com poucas forças, sem vontade, jantei só por comer algo… Isto não se pode voltar a repetir. Como dormi todo o dia, agora sinto-me mal, zonza mas sem sono. Olho para estas 4 paredes e não sei que pensar mais… aliás, adoraria não pensar. Preciso calar as minhas questões, os sentimentos e confiar no amanhã. Amanhã será melhor. Amanhã nem que me medique mas vou trabalhar, a minha Vida não pode ser prejudicada por sentimentos dolorosos. E peço a todos os santinhos que não me deixem cair de novo. Dói demais e é infrutífero. Nada poderá ser alterado. 

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