sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Je suis Gustavo Santos

Já li umas 10 vezes a opinião do Gustavo e continuo sem ver nada de mal. Ele disse que neste ataque ambos os lados tinham 50% de culpa. E depois? Até parece que o senhor gritou que o Islão é o maior e que devemos ser todos subjugados.
Os meus pais ensinaram-me algo que considero básico, ou deveria sê-lo: a minha liberdade termina onde começa a do outro.
Simples.
Portanto, se queremos ser respeitados, devemos dar-nos ao respeito. Se fizessem caricaturas sobre a cultura islâmica no seu estado mais primário, entenda-se violações, penas de morte a homossexuais, terrorismo, compreendia. Era um serviço de jornalismo, era dar a conhecer a barbárie. Mas agora chegar a fazer desenhos de Maomé apenas a ser sodomizado? É vontade de provocar e desrespeitar.
Não defendo nem nunca defenderei o terrorismo mas na França, sabendo-se que os muçulmanos já deixaram de ser há muito uma minoria, proceder a provocações em vez de promover a socialização e bem estar entre cidadãos, parece-me imaturo e irresponsável.
Mas enfim, a França é aquele país que recentemente quis marcar os pobres com estrelas de David (voltamos ao Holocausto?). A França colocou picos de ferro nos bancos de jardim para que sem abrigos não pudessem deitar-se lá e causar mau aspecto na cidade. A França vai ter agora um referendo que pretende trazer de volta à constituição nacional a pena de morte. A França pretende fechar fronteiras e grita a plenos pulmões que o multiculturalismo é algo mau. Má a diversidade cultural?
Para mim isto é apagar fogo com gasolina e pagar na mesma moeda. Isto é já uma declaração de guerra. E portanto neste episódio eu acredito piamente que sim, ambas partes têm 50% de culpa.
E o português que tanto critica e critica quem não é a favor de colocar uma bomba sobre os Estados Islâmicos e fala em liberdade de expressão lembre-se que o Bruno Nogueira e o Nuno Lopes receberam ameaças de morte por fazerem 2 brincadeiras, uma sobre Cristo e outra sobre Salazar. Portanto…

PS: este ataque veio mesmo a calhar para a Extrema Direita… just saying…


12 comentários:

  1. Tudo isto só favorece uma extrema-direita por toda a europa onde vamos acabar por ver os nossos direitos arrancados a ferro com a frase "é pela vossa segurança"..
    Ninguém nos mandou ir para aquele encha-me de vespas, será que aqueles países não estavam melhores com os seus ditadores?
    Sobre o humor que se faz, é certo à que ter limites, mas acho que já nem estamos a falar de religião e sim cultos, dos piores que podem haver.
    Falo em cultos porque cultivam tudo o que " deus" não quer

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  2. Vamos por pontos:

    - Quem é a favor de fechar as fronteiras é apenas um partido. O facto da Extrema-Direita querer algo não significa que toda a França queira.

    - Concordo contigo quando dizes que a nossa liberdade acaba onde começa a liberdade do outro, mas se levares isto ao extremo então significa que não podes contar anedotas sobre loiras nem sobre alentejanos (pois podes ofendê-los) ou mesmo dizer que uma actriz ia mal vestida para uma gala pois ela é livre de usar o que quer, ou criticar os políticos pelas decisões que tomam pois eles são livres de as tomar.

    - O facto de não compreenderes as sátiras desenhadas não significa que elas não tenham uma mensagem que muito provavelmente até alcança mais pessoas que uma simples opinião formal. Ainda assim, dizes que compreenderias os cartoons se estes visassem as violações e execuções que se fazem, mas porque supões que esses seriam mais aceitáveis pelos fanáticos religiosos e que estas mortes não teriam acontecido?

    - O problema deste fanatismo é que não aceitam nada contra aquilo em que acreditam. Seja um cartoon com um profeta sodomizado seja um desenho mais inocente mas crítico na mesma. E se por medo, por receio que se virem contra ti, deixas de dar a tua opinião, deixas de brincar, deixas de gozar, deixas de criticar, então submetes-te a eles. E se alguém te põe tanto medo ao ponto de não reagires, então és alvo de terrorismo.

    - O multiculturismo não é mau, no meu ponto de vista, a não ser quando chegas ao ponto em que os povos que vêem para um novo país tentam que a sua própria cultura se imponha sobre a cultura do país para onde se mudaram. O facto de os muçulmanos terem deixado de ser uma minoria em França não lhes dá nem nunca dará o direito de imporem o que quer que seja ao povo francês. Da mesma forma que por muitos chineses, ucranianos e romenos que haja em Portugal, nunca os portugueses terão de alterar a sua cultura para passar a viver a cultura chinesa, por exemplo.

    - O facto de o Bruno Nogueira e o Nuno Lopes terem recebido ameaças de morte foi também um atentado à liberdade de expressão. Qual é a tua posição quanto a isto? Achas que eles violam a liberdade daqueles com quem gozam e por isso mereceram estas ameaças e deviam a partir de agora remeter-se ao silêncio e escolher outra profissão?


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    1. Foram muitos pontos, vou também tentar ir por partes. Mas lá está, acima de tudo, ambas as posturas são válidas porque é isso que torna o mundo interessante: facções.
      Hoje todos os jornais e noticiários foram explicitos, ha pelo menos 3 partidos franceses a quererem fechar as fronteiras. Por si só acho que isso elimina a visão de união europeia, portanto muita coisa tem de ser revista. Eu não disse que desenhos sobre violações não causariam um ataque igual, isso nunca o saberemos nem vale a pena divagar sobre o futuro que nenhuma das duas pode adivinhar. No entanto, mantenho a minha postura: não se goza com crenças e valores. Tu sabes que eu implico com o cristianismo mas sempre me ouviste dizer / ler que respeito aqueles que possuem real fé. Tenho um amigo testemunha de jeová, outra amiga evangelista e 4 da igreja maná. Quando me convidam para as suas cerimonias importantes eu vou. Se acredito? Se aquilo me faz sentido? Não. Mas respeito.
      Entendeste mal a minha parte sobre o Bruno e o Nuno. Não era uma critica a eles e sim aos portugueses. Então está tudo indignado com os ataques e viva a liberdade mas aqui em portugal é que não? Aliás, aconselho-te a ler a critica que o bruno lançou ha 2 dias a esta situação. Ele critica o movimento de que agora todos somos Charlie e o próprio Gustavo, Mesmo apoiando o Gustavo, a critica inicial do Bruno é genial ele fala justamente do que já foi feito em Portugal e ainda se faz contra a liberdade de expressão e da violencia que isso gerou. Mas só lá fora é que é mau. São 4min, ouve. A sério.
      E volto a afirmar: não sabemos o futuro mas satirizar a violencia islamita, os crimes, é apenas uma questão de códigos internacionais. Já as restantes cenas com o Maomé de fundo... o islão não é uma religiao. É um estado não laico. O Alcorão proibe claramente a representação, por mais bonita que seja,do profeta. Então não é correcto que alguém de fora venha fazer algo que é um pecado / crime bastante grave.
      Se eles se têm que moldar à França só porque emigraram? Não. Também a França não se deve moldar à população. Certo. Mas a França foi a primeira a proibir o uso de véus em sitios públicos há uns meses e isso também é uma ofensa à liberdade de um povo. Eu não uso véu mas jamais impediria alguém ao meu lado de o usar. Acho que este ataque foi resultado de ambas irresponsabilidades. Tentar causar o medo e o terror apontando o dedo sempre ao islão já é demais.Recordando que eles nem sabiam que nós existiamos até os EUA terem decidido intervir em algo para o qual nem foram solicitados. Eles reagem de forma bárbara? Claro. Mas lá está. Reagem. Quando uma sociedade tem necessidade de provocar outra pra vender jornais, algo não está bem também. Uma história nunca tem só um culpado a 100%.

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    2. Eu acho que deve haver limites. Eu olho para alguns cartoons da Charlie Hebdo e acho que estão um bocadinho acima daquilo que eu consideraria aceitável. Outros não. Tu podes olhar para todos eles e achar que são todos demasiado maus. O meu vizinho pode olhar e achar que é apenas humor. Quem estabelece estes limites? Não críticas o Bruno e o Nuno porque provavelmente não achaste o sketchs deles demasiado gozões, mas pelos vistos houve quem achasse que eles faziam mal em gozar com Cristo. Quem está certo ou errado? Tu ou eles?
      Quanto ao vídeo do Bruno ouvi-o esta manhã e concordo com tudo aquilo que ele diz. Mas ele defende exactamente que em Portugal deveria haver quem fizesse humor sem se preocupar se chateia a classe política ou a igreja. Mas se ele e tantos outros o passarem a fazer, não estarão a gozar com as crenças de muita gente?
      O nosso país determina que violar uma mulher é crime. Não é por isso que noutros países não façam disso a cada esquina sem consequências. Ninguém vai para o Islão fazer cartoons. Isso sim seria um crime.
      Eu não disse que eles têm de se moldar à França. Mas eu não posso ir para um país com pena de morte, fazer um crime e exigir que não apliquem a pena de morte a mim porque no meu país ela não é permitida. Há regras, culturas e leis que eles são obrigados a seguir. Ninguém os impede de fazer o ramadão mas por outro lado tem de perceber que a poligamia, por exemplo, não é aceite em França. Pode ser aceite no país deles, mas não no país em que estão e nisso, sim, têm de se moldar às leis deste país.

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  3. Quando à questão dos véus: apenas o niqab foi proibido por tapar totalmente a face e não permitir identificar se se trata de um homem ou mulher. Outra razão é o facto de a França considerar o uso do niqab um atentado à liberdade por achar que muitas mulheres o usam por obrigação de outros e não por decisão pessoal.

    Quando fiz Erasmus (em França) levei comigo uma cruz oferecida pela minha tia. O Jack avisou-me que não a poderia usar na universidade por ser proibido. Fiquei espantada, afinal de contas já a tinha usado na universidade em Portugal (e apenas por gostar da jóia, nem lhe dava propriamente um simbolismo religioso). Mas realmente nas universidades em França é proibido o uso de símbolos religiosos. E confesso que não me choca e que acatei sem problemas a lei. Da mesma forma que passei a primária numa escola onde todos os alunos tinham de usar batas iguais? Opressão da liberdade individual quanto à roupa? Não, impedimento de reconhecimento de diferentes classes sociais. Se a ausência de símbolos religiosos nas universidades permite que todos se dêem sem andarem em guerras todos os dias por acharem ofensivo os símbolos que cada um traz, óptimo.

    Mais um aparte: os próprios muçulmanos condenam este ataque à Charlie Hebdo. Não será isso um sinal de que sabem que estão em França e que este país tem leis às quais eles têm de obedecer e que se viverem a sua própria religião descansados ninguém os condenará?

    Como diz o imã da mesquita em Lisboa: Se não estão satisfeitos por viverem no país liberal, podem emigrem.

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  4. Lá está Tetem posturas... para mim, cada decisão nossa afecta e envolve sempre os outros. Logo fazer algo que sei que gerará tumulto social só porque sim não é opção. Houve caricaturas mais simples que outras. Houves algumas que eram uma simples provocação a outro povo. Sem necessidade. Na escola, se alguma vez gozasse com um colega e o fizesse sentir mal por ser como é, certamente levaria uma bela naldaga e um castigo como vi acontecer com tantos colegas. O facto de ter um irmão com trissomia 21 também me ensinou que não devo fazer aos outros o que não gosto que me seja feito.
    Já agora porque parece estar dificil o nosso dialogo nesta parte: eu não critiquei nem concordei com o Bruno e o Nuno, Tete! Foi apenas um exemplo de como os portugueses só acham atentados à liberdade quando é noutros países. Foi um exemplo! Sem qualquer julgamento / opinião pessoal.
    Já agora o exemplo que também deste da poligamia não sei como é aplicado. É deveras complexo. Se na Arábia tem valor legal 6 casamentos, não poderás também chegar a França e obrigarem-te a optar por uma só familia. E também não te podes prender por fazer algo que consideras básico na tua cultura. Este é só um exemplo do multiculturalismo (que acho riquissimo). Não é facil nesta era global conviver e conciliar. Mas se existirem provocações e desestabilizações, então será impossivel.
    Sobre o véu, obrigadas umas outras não... lá está, porque não deixa-las decidir? A cultura é delas, não nossa. Isto é um contracenso! É como a Le Pen dizer que vai usar a pena de morte como instrumento de defesa da tolerancia... só a frase é incrivelmente surreal.

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  5. Não vou insistir na discussão. :) Até porque atenção, eu sou simplesmente contra alguém matar outra pessoa. Ponto. Não me interessa se se sentiram ofendidos, não me interessam que estão chateados, não me interessa se alguém roubou a mulher a outro, não me interessa nada. Houve mortes e para mim não há razão nenhuma para que isso aconteça.

    Mas vou insistir um bocadinho mais na parte do multiculturismo. Há locais no mundo onde as mulheres são enterradas e mortas à pedrada. E isto é absolutamente normal na cultura deles. Se estes povos vierem para França, devemos deixá-los fazer isto às mulheres deles?
    Quando fiz Erasmus, fiquei numa residência de muçulmanos. A determinada altura era a única mulher naquela secção. E vieram bater-me à porta do quarto para me perguntarem o que lhes faria para jantar e se lhes passaria a ferro a roupa. Recusei-me obviamente. Não me interessa se na cultura deles a mulher é subserviente. Estava em França e não era obrigada a nada. Mas acredita que ainda me vi grega para que eles percebessem isto. E se isto me chateou a mim, portuguesa em França, imagino que muito mais chatearia uma francesa que está no seu próprio país e que de repente se vê quase a ser obrigada a fazer algo porque na cultura dos vêm de fora é absolutamente normal.

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    1. Eu também acho que a Vida deveria estar acima de tudo. Mas infelizmente vivemos num mundo que não é como gostariamos, feito de tanta e tanta gente que reage de formas inesperadas e opostas a nós. E pensando nisto, é que acho que poderiamos ter mais atenção. Pedimos tolerancia e bom senso mas ele tambem tem de partir de nós. 50% para cada lado, entendes? Por exemplo, isto da pena de morte para mim é combater o mau com o mau. Não faz sentido. Não deveriamos ser melhores que aqueles que apelidamos de selvagens?
      Acção gera reação e nunca somos vitimas nem na nossa vida pessoal.
      Mas essa situação... imagino a tua cara! Eu acho que teria discursado durante 1h sobre o feminismo! ehehe
      A Anna Ferrer, presidente da Associação Vicente Ferrer trabalha muito nisso, tenta explicar às mulheres indianas que elas podem trabalhar e não dar o dinheiro aos maridos. Mas simplesmente algumas não querem mudar, não acham necessario. São culturas independentemente da nossa interpretação.

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  6. Se estão descontentes, se se sentem ofendidos, vão para tribunal! É o que o ser humano NORMAL faz. Não é andar aí a matar pessoas. Pelo amor da Santa...

    Luciana

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    1. Isso seria num mundo coerente e são. Não é o que temos. Continuo a achar que o problema se prende, acima de tudo, com a não laicização do Islão. Torna tudo com uma maior dimensão.

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  7. A Mais Picante explica a liberdade de expressão da forma como eu não conseguiria explicar. :)
    http://pipocamaispicante.blogspot.fr/2015/01/liberdade-de-expressao-definicao-final.html

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    1. Percebi o ponto de vista dela, claro. Mas há algo no exemplo que não faz sentido. A França nunca foi ameaçada. Só depois das publicações sobre um Maomé homosexual terem saído à rua. E continuo mesmo a achar que o facto de a população muçulmana em França já não ser uma minoria há muito deveria valer de algo. Pelo menos em nome da paz e da convivencia social.

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