sexta-feira, 11 de março de 2016

Há licenciaturas e há investimentos sérios na carreira

Depois de ter uma professora que desaprova trabalhadores estudantes e que me convidou a despedir-me para ter todo o tempo do mundo para estagiar num sem fim irrisório de sítios, que me disse que o Reiki no IPO era uma invenção e que terapias assistidas eram piada, eis que este semestre ainda sou brindada com disciplinas interessantíssimas com nomes como BIBLIOGRAFIA E PESQUISA em que tenho de perder tempo presencialmente numa biblioteca a arranjar livros, teses e artigos científicos sobre determinado assunto (o qual nem é importante nem necessita estar relacionado com a licenciatura, podendo portanto ser sobre plantação de batatas ou como fazer um bom cozido à portuguesa), só para mostrar que sei pesquisar e desenvolver um trabalho de "investigação" de 4 páginas. Tenho testes de escolha múltipla. O meu orientador de estagio será um aluno mais velho e eu serei obrigada a estagiar no sitio em que ele esteja (sou eu que pago as propinas e deveria fazer a MINHA carreira, certo?...). Tenho uma cadeira ridicula de apenas 7 aulas de duração, cujo exame é uma recensão critica feita em casa.

Estou farta!!
Eu já estive numa licenciatura de 4 anos e foi um enorme desgaste, noitadas, fome, trabalho árduo. Trabalhos de no minimo 20 páginas mais apresentação oral. Aqui? Só um powerpoint que ler dá trabalho.
Antigamente gastava rios de dinheiro em fotocopias. Havia semanas em que gastava mais de 100€. Aqui? Acho que não gastei nem 50€ desde setembro.
Isto é brincar com o tempo que não tenho. Sinto-me a brincar nesta licenciatura. Sinto que estou a sacrificar a minha felicidade e juventude a viver num sitio que odeio para nada. Nem aprendo, nem sou util. Não bastava a cidade ser merdosa, ainda perdi o interesse no curso. Se é que isto se pode chamar de curso...

7 comentários:

  1. Tens de perceber logo à partida que os cursos são diferentes e que por isso exigem coisas diferentes. Se no curso que tiraste fazia sentido gastar 100€ em fotocópias (nunca o fiz, admito, o meu curso não o exigia), neste esse gasto pode não fazer sentido. Não significa que o curso seja pior ou melhor.

    No curso que tiraste, nunca houve cadeiras que não gostaste? Cadeiras onde o professor não tinha qualquer vocação? Cadeiras onde tudo era facilitado? E outras onde por muito que te esforçasses o professor nunca dava mais de 12?
    Há cursos em que o 1° ano é uma trampa. O meu era um bocado assim (eu não desgostei assim tanto, mas tínhamos imensas cadeiras e apenas 2 eram de Biologia) e houve um ano em que os caloiros se revoltaram porque sentiam que tinham perdido o interesse mal tinham entrado no curso. Quanto mais se avançava melhor era porque podíamos começar a escolher as cadeiras mais interessantes. Para a área que eu gosto, havia apenas UMA cadeira em todo o curso. :) Mas aprendi outras coisas porque ninguém te diz que vais conseguir trabalhar na área específica que pretendes.

    Dá uma hipótese Raven. Estás novamente a entrar no loop de "ai, que fixe, vou para Lisboa, vou estudar, estou 100% feliz! - Estou farta de Lisboa, não gosto do curso, odeio isto tudo, vou-me embora! - Encontrei outra coisa qualquer, noutro sítio, estou 100% feliz - Odeio a coisa nova, odeio o novo sítio, vou-me embora!". ;) Tens de aprender a tirar a felicidade da situação onde te encontras em vez de estares sempre à procura do sítio onde serás 100% feliz desde o início (até porque não sabes se vais encontrar ou se quer se existe).
    Agora é o curso, os professores e as cadeiras. Entrando no mundo do trabalho, serão os patrões, os colegas, as limitações às coisas que queres fazer. Nunca encontrarás um sítio que não tenha um único revés, por isso tens de aprender a lidar com eles e a conseguir tirar o bom de cada coisa. :)

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    1. Desde setembro que não penso que tenha esse "loop". Estava entusiasmada, com perspectivas. Cheguei e percebi que não era isto. Nunca me "leram" a queixar-me da casa ou do emprego. Gosto de viver sozinha, a vida aqui no campo é bonita, pude adoptar um novo gato e o meu emprego continua a correr bem e a ser optimo com um ordenado acima da média. Mas o curso é realmente irrisório. Pude comprová-lo ao conversar com pessoas que tiraram a mesmissima licenciatura noutros sitios. O meu orientador será um aluno de 3º ano e eu serei obrigada a estagiar onde ele estiver. Portanto... pago propinas para estagiar onde alguém 3 anos antes decidiu... Não estou confortavel e penso lutar pelos meus direitos até à última consequencia. Ter uma professora que é contra trabalhadores estudantes e me pergunta se me vou despedir para estagiar?!? Apresentei queixa há 2 dias contra a docente. Se tenho de viver num sitio que não ressoa comigo e que detesto por causa deste objectivo de carreira, ao menos que realmente tenha algum proveito. Não abri mão da minha qualidade de vida para parecer que fiz um curso nas novas oportunidades.

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    2. Eu percebo o que dizes mas os cursos não estão feitos para que saias deles pronta a trabalhar a 100% naquilo queres. Em primeiro porque cada um pretende uma área específica e sendo impossível fazer um curso específico para cada um, faz-se um abrangente, daí teres cadeiras que a ti nada te interessam enquanto que para outros será importante para a carreira que pretendem. A cadeira de que falas por exemplo eu acho que até é interessante. Nos dias de hoje são cada vez menos os alunos que sabem fazer pesquisa num biblioteca, que sabem consultar bibliografia, tu chegas à net e encontras tudo feito, bem ou mal. Eu cheguei a ver um trabalho de química feito por um aluno universitário que era copy-paste de um post num blog chamado Cavaleiros do Asfalto, ou lá o que era. Ao longo da carreira podes vir a precisar de consultar livros e tenho a certeza que muitos nem saberão como está organizada uma biblioteca. Digo-te até que muitos não sabem procurar palavras num dicionário. É uma perda de tempo? É, para ti que já sabes. Para muitos não será.
      E eu não sei exactamente em que é que pretendes trabalhar, mas e se não conseguires, não achas melhor ter luzes sobre a área de forma mais abrangente? Eu quis genética, tive uma cadeira sobre isso, fiz um estágio naquilo que sempre quis mesmo (genética humana) e depois o mestrado foi em genética animal e o trabalho em práticas laboratoriais e identificação de espécies. Ainda bem que tive algumas cadeiras que na altura achei não serem nada daquilo que pretendia.
      Tu pagas as tuas propinas, tu tens direitos, claro que sim, mas não podes transformar o curso à tua imagem. Já pensaste que pode haver um propósito qualquer em estagiar no sítio escolhido por um aluno três anos à frente? E porque não escolhes tu um orientador que trabalhe num sítio que gostes?
      E eu não assisti à conversa, mas tens a certeza que o comportamento da professora foi realmente assim tão mau? Ela provavelmente já viu nos últimos anos muitos alunos a despedirem-se para estagiar e pode estar habituada a isso. No primeiro ano de curso fartei-me de ouvir uma professora dizer "vocês sabem que estão a estudar para ir para o desemprego certo? Eu ao menos tenho trabalho....". Era parva, simplesmente, e pronto. O que dizer mais? Fazer queixa para quê? Porque ficaste sentida com o que ela te disse? Ela não te ameaçou nem te obrigou a nada.
      Quanto ao curso em si...bom, não digo nada e tenho talvez de te dar razão. É verdade que dependendo das universidades, há cursos melhores e piores.
      E agora só para finalizar: que qualidade de vida? ;) Um emprego onde não gostavas de estar, numa cidade que já não era como quando lá estudavas? ;)

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    3. Concordo plenamente que o curso deve ser mais geral. Não é segredo que crianças me deixam desconfortavel e vou ter várias formações relacionadas com elas. Mas há disciplinas como esta que acho muito más. Ou porque não ensinar métodos de pesquisa para aplicar em trabalhos a sério que possam ser uteis no curso? É que a prof deixou claro que o tema pode ser uma receita culinária, não é importante e a perda de tempo será o mesmo, entendes?
      Sobre ter como orientador um aluno... a justificação que me foi dada foi "Voces são muitos e nós professores damos aulas noutras faculdades. Temos mais que fazer". De certeza que eu no 3ºano ainda terei muitas duvidas e não estarei qualificada para orientar um aluno. Portanto também não confio em pagar propinas para que os professores me digam que têm mais que fazer do que me ensinar.
      Sobre escolher um orientador onde eu goste.... 90% trabalha com crianças e jovens. E quero propôr tráfico humano, sem abrigos, multiculturalidade... áreas muito pouco procuradas. E fiz queixa da prof perante aconselhamento de outra docente que me confessou que não é a primeira vez que acontece uma situação de descriminação por parte daquela prof para com um trabalhador estudante e ela foi bem explicita Tete: "se estagiar só num sitio, ainda que o director de curso lhe tenha dito que seria o melhor, vou considerar a sua experiencia pouco enriquecedora e verificar-se-à na avaliação".
      [e nota que o meu curso é pós-laboral...]

      Sobre o teu último comentário... como disseste anteriormente nem tudo pode ser bom. Neste último emprego foi realmente o horror, tive pela primeira vez na vida uma chefe má. Sempre tinha tido patrões muito humanos. Mas eu poderia mudar de emprego. Afinal tive 2 enquanto lá vivi neste ano e só me despedi do primeiro porque a crise se instalou e começaram a pagar-me menos, obrigando-me a procurar algo mais. Com muita pena minha. Mas para mim cidades historicas, onde encontres um amigo em cada esquina, onde tudo seja motivo para um café e conversa, gargalhadas, onde paras para comprar pão e aparece alguém de guitarra na mão a cantar e a meter conversa contigo.... ahhhh contacto humano! Vale ouro! Acordar 15min antes de entrar no trabalho, ir a pé a todo o lado, haver segurança a qualquer hora, viver com um ordenado minimo que me sobra todos os meses porque tudo é barato e està à mão. Quanta saudade de ter tempo para tudo e todos.
      Mas pronto fui eu que senti saudades de estudar e escolhi um curso que não havia lá... agora é aguentar a bomba!

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  2. A sério, faz-te um favor: vai e não voltes. É que ninguém te chamou para aqui e é desesperante perceber que tudo o que existe aqui é mau na tua perspectiva. Assim, indo embora, sempre poderás ser feliz, no que quer que isso realmente signifique.
    Vai, volta para o teu emprego naquela cafetaria, ao amigo sexy que te aviou e despachou, ou então volta mesmo para ao pé da mamã, para o teu conforto. E, tenho a certeza, serás mais feliz que peixe na água.
    Aqui, numa cidade que oferece tudo e mais alguma coisa, com tudo de bom e mau que isso acarreta, num emprego que até, segundo dizes, paga bem (tomara tanta gente dizer o mesmo... Tantas pessoas...), a tirar um curso que poderá oferecer-te uma carreira e na área que gostas, são razões mais que suficientes para te quereres pirar daqui. Eu compreendo.
    E, compreendo também, que te falta visão.
    Tenho pena.

    Ass.: RR

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    1. Obrigado pelo comentário interessante. Ser grata por ter o que muitos hoje em dia gostariam não significa resignar-me. Há gente desempregada, claro. Há gente a passar fome também. Sei-o bem pois participo em diversos projectos alimentares. Mas existe um conceito chamado sub-felicidade do qual pessoalmente tenho medo. Aquela frase "até sou feliz", sabes? E se há pessoas que se sentem confortaveis com isso, eu não. Um reparo: este blog tem uns anos e contém muitos episodios, logo poderás ver que voltar para casa da mamã que tu dizes ser zona de conforto seria estranho umas vez que sai de casa aos 17 e nao voltei mais... já vivi e trabalhei noutros países, sempre fui muito aventureira. A minha zona de conforto é não parar muito tempo em sitio algum. E se eu não gosto de Lisboa, não tenho porque gostar. Sim, tenho uma moradia com quintal só para mim, sou independente há vários anos, nunca estive desempregada, sempre tive "sorte" e tenho um excelente emprego. Sou grata. De coração. Mas não é aqui a minha missão e muito menos a felicidade a sério.

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    2. Senhor Anónimo, peço desculpa por estar a meter-me onde não sou chamada mas como fez o mesmo, acho que não vai levar a mal!
      Qual é o objectivo de vir acompanhar os desabafos da Raven se não se identifica com a forma dela expor os problemas ou mesmo com as dúvidas dela?
      Senhor anónimo, nem toda a gente se acomoda só porque ganha bem! Algumas pessoas são ambiciosas e querem mais! É por isso que o merecem! Querer mais, lutar por mais, ser mais... é algo que não está ao alcance de muitos e por isso é que a Raven é ela e pronto!

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