quarta-feira, 12 de abril de 2017

Pós Doc em amizade

Foi assim que comecei a semana:


Na Foz do Arelho, à beira mar, a comer um belo gelado, a beber um ginger alle e a sorrir, a abraçar as amigas e a discutir sobre como nos sentimos a chegar aos 30.
Pensei que fosse mais dificil ver a minha amiga doente, sem cabelo. Mas não. Ela recebeu-nos tão feliz, com um sorriso tão luminoso que nem foi possivel pensar em coisas tristes. Chegamos e ela saiu do carro correndo para nós; envolvemo-nos num mega abraço triplo e até um simpatico senhor que passou por nós disse "Isso! Amem-se! É para isso que vivemos!".
Ela está a encarar tudo de forma tão leve, fazendo piadas sobre a sua nova carequinha. Que orgulho na grande mulher que é!
Ali estavamos as 3, 10 anos depois de nos termos conhecido da Universidade. Ela com 32 anos, a nossa loiraça com 29 e eu com 28. Ela com cancro, a loiraça ainda em casa dos pais a questionar muitas das suas opções, da vida e eu... mais gordinha, na capital, a questionar tambem muita coisa. Ali estavamos 10 anos depois, a amizade que sobreviveu, evoluiu, uma irmandade verdadeira, a planearmos o verão cheio de eventos culturais, encaixando na agenda as sessões de quimio. Ela lembrando o aborto que sofreu, a relação de merda que tem mas ainda assim mantem por medo, medo da idade, da doença, de não vir a ser mãe. A nossa loira perdida como sempre, sem saber que esperar do futuro. E eu... cada vez mais segura que essa coisa da maternidade não será para mim. E dizia-nos ela, "Aos 30 sentimos que devemos escolher um de dois rumos: apostar na carreira, arriscar nesta crise, viajar e ser livres mas, por conseguinte, sermos sós. Ou escolher alguém, leva-lo a sério e pensar em bebes. Voces não sei mas eu sinto essa pressão de escolher e sei que preciso ser mãe para ser feliz. Não quero ser culta e viajada sem isso. Prefiro pagar fraldas que bilhetes de avião. Não quero ficar só com a minha cultura, ver os amigos casados e eu com um sofá vazio cheia de livros inuteis".
Eu sei que esta pressão, social e pessoal, existe. A minha familia até há bem pouco tempo exercia-a fortemente sobre mim. E alguns ainda tentam. Contudo, desde que fiz 25 que ganhei outra segurança. Entrar naquela metade que já ruma aos 30 fez-me sentir que tinha legitimidade para ser eu mesma sem que alguém o desvalorize dizendo "Ah espera mais uns anos e vais ver que vais querer / dar-me razão / deixar de ver tudo tão positivo". E agora com 28 ainda mais tenho essa certeza. Pensando na questão que a minha amiga me colocou, imagino-me mais no primeiro caminho, o da carreira e viagens. Claro que sempre ouvi dizer e até concordo que o preço a pagar pela liberdade é a solidão. Sei disso. Mas também sei que o futuro é surpreendente e no próximo mês posso-me apaixonar como nunca e puff! Olá relogio biologico! Claro que não acredito que isso aconteça mas a verdade é que a vida é magica, inesperada. Posso morrer atropelada amanhã, posso ser mãe no próximo ano ou posso chegar aos 40 a viver no Japão e com 7 gatos. Não sei nem sinto pressão de saber. Se há coisa que aprendi com o reiki e a meditação foi a viver no aqui e agora. Agora estou em Lisboa, tenho o meu adorado emprego, voltei a estudar, estou a estagiar, tenho bons amigos. Amanhã logo se vê. Esta postura pode dar nervos aos mais disciplinados e metodicos mas a verdade é que eu me tornei muito mais feliz desde que deixei de planear.

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