domingo, 25 de março de 2018

Do estágio

Quando escolhi o meu actual estágio, confesso que o fiz por uma questão de proximidade geográfica e por achar que seria mais fácil. Depois até me culpei por estar a escolher uma área onde talvez não aprendesse muito ou não fizesse tanta diferença social. Mas agora...
Conheci a A., que nasceu rapaz num país de leste, numa zona rural; foi abusado toda a infancia pelo pai, até que conseguiu fugir para a cidade grande onde todas as pessoas que lhe ofereceram ajuda foram abusando dele de diversas formas até o meterem numa rede de trafico humano e prostituição. Lá conheceu um cliente que lhe pagou uma mudança de sexo sem condições nenhumas na Tailandia (ainda nem conseguimos perceber se de facto desejou esta mudança) e foi toda uma panóplia de abusos e agressões e crimes até chegar a nós.
Já li sobre coisas muito piores em países árabes! Mas ter a pessoa ali, à nossa frente, destruida, a contar-nos tudo... é devastador! Mantive-me profissional, segurando diversas vezes a emoção. E é incrivel e esmagador perceber a falta de respostas para ajudar um ser humano, maioritariamente por questões burocraticas. Não se entende!
Nunca tinha visto uma pessoa com a identidade completamente destruida; só diz que gostaria de ser uma planta, que é um mamifero, que não é gente, que não tem nem pode ter sentimentos. Que rumo levará um ser humano a não se ver como tal?
Estou completamente chocada mas com a certeza absoluta que afinal escolhi o local de estágio certo.

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