sexta-feira, 23 de setembro de 2011

As minhas novas heroínas:

Pois é! Agora venero e muito as empregadas domésticas!
Não é fácil, sobretudo quando se é interna. É como não ter vida.
Eu não me posso queixar. Depois do choque inicial e de eu explicar que vinha para outras funções e que não sabia mesmo fazer nada da lide doméstica, a Princesa foi porreira e deixou-me encarregue apenas das limpezas matinais, libertando-me de passar a ferro e afins (acho que temia pela segurança das suas roupas Channel).
Tive 2 semanas a trabalhar no seu Chalet de Madrid para me ambientar aos seus hábitos e depois, as restantes 5 semanas, fui para a sua casa de praia em Marbella.
Confesso que para membro da monarquia, a Princesa até era acessível e simples.
Claro que tinha as suas coisinhas ridículas, como por exemplo, eu tinha de lhe abrir um pouco os lençois sempre que ela se queria deitar; o seu copo para colocar a pasta e escova dos dentes era de prata; o seu cão (liiiiindo de fofo e que eu tive vontade de raptar) tinha uma coleira de prata e de marca, bem como cabeleireiro e cozinheira só para ele.
No meio deste mundo novo, ainda lucrei! Todas as sextas-feiras tinha folga e aproveitava para me meter num autocarro e conhecer outras cidades. Fui a Málaga, a Estepona, a Ronda e a Trujillo. Também me posso gabar de conhecer como a palma da minha mão Madrid.
E tenho de admitir: ainda bem que fui “enganada”. Se soubesse que ia para empregada doméstica, a minha arrogancia e pretenção não me teriam deixado ir.
Acredito que tudo acontece por alguma razão, o nosso rumo está traçado e temos sempre algo a extrair das pedras que pisamos. Sei claramente que esta experiencia me foi fundamental para a minha formação como ser humano e me fez ponderar nos meus valores.
As empregadas daquela casa eram paraguaias pobres que estão há anos em Espanha a mandar todo o seu salário para os filhos, pobres crianças que estão no Paraguai a crescer sem a presença materna. São mulheres de garra, incríveis, leoas protectoras a dar a pele pelas suas crias. Uma delas tinha 24 anos e já 2 filhos às costas… Emocionei-me com ela. Quando a olhava, pensava que aquela poderei ser eu…
 
 
Foi sem dúvida como estar no limbo.
Estive entre a nobreza e o povo.
Um capítulo mais na minha biografia que é sem dúvida o mais rico até ao momento.
Mas não vou parar! Auto-defino-me como uma coleccionadora de vivencias e, como tal, estou a espera de mais peripécias nos meus dias.

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