quinta-feira, 5 de abril de 2012

Crise homicida

Era hora de ponta, faltava pouco para as 9h. Um homem – sabe-se que tinha 77 anos e que foi farmacêutico – dirigiu-se nesta quarta-feira para o quilómetro zero de Atenas com uma arma e um bilhete no bolso. Já a poucos metros do Parlamento, disparou.
Uma testemunha contou à televisão estatal que ainda o ouviu gritar “não quero deixar dívidas aos meus filhos”, e terão sido estas as suas últimas palavras. No bilhete que trazia no bolso estava escrito “Sou reformado. Não posso viver nestas condições. Recuso-me a procurar comida no lixo, por isso decidi pôr fim à vida”. Depois acusou ainda o Governo de “aniquilar qualquer esperança de sobrevivência”.
Houve quem deixasse mensagens de revolta. “Não foi um suicídio, foi um assassínio”, “Governo assassino” ou “quem será o próximo?”
Sabia-se que o número de suicídios na Grécia tem vindo aumentar – os dados do Ministério da Saúde apontam para um aumento de 40% desde o início da crise e um relatório divulgado pela polícia referiu 622 suicídios em 2010 e 598 até 10 de Dezembro de 2011 (a média era 366 entre 2000 e 2008).
Jronis, de 51 anos, sentiu revolta. “O que sinto é raiva. Porque isto é um assassínio e porque somos todos culpados: o Governo, a troika, a austeridade e os partidos de esquerda, que apoio, porque são incapazes de se unir e propor algo de novo, só se preocupam com os seus pequenos interesses.”

Estou em choque.
Esta crise comporta-se como uma epidemia, é a nova peste bubónica, vai limpando da superfície terrestre os pobres, os doentes, os desgraçados.
Onde vamos parar?
Acho que é hora de ponderarmos quando se chega a este ponto, o ponto em que já se prefere rebentar o cérebro no meio de uma praça. É o auge do desespero, da fome, da sobrevivencia. Porque chegámos a uma era em que sobreviver é morrer e fugir à humilhação de vermos arrancados por senhores imperiais aquilo que toda a vida construímos.
Já perdi a fé.

5 comentários:

  1. Só espero que essa situação não se chegue a verificar em Portugal :s

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  2. É horrível, perfeitamente assustador ver o desespero desse senhor.

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  3. O desespero ao ponto de se chegar a um suicídio deve ser das coisas mais horríveis. Espero que os Portugueses sejam mais fortes de espírito!

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  4. Também chegará a Portugal sim. Creio que estamos à beira de outro Crash de 1929.

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  5. Infelizmente, parece-me que estamos muito longe de resolver esta crise, não me admira que os suicídios também venham a aumentar em Portugal...

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