terça-feira, 28 de abril de 2020

Do México XIX

Do choque III

No México, os colonizadores acabaram por não conseguir eliminar a religião indígena existente, ao mesmo tempo que não conseguiram consolidar de forma hegemónica o cristianismo e ainda conseguiram misturar tudo ao levar para este território escravos africanos.
Resultado actual: em cada bairro há um altar à virgem de Guadalupe e aos seus pés ervas, incensos, mezinhas aztecas e galinhas degoladas.
O México actual é uma verdadeira mistura esotérica, onde a Santeria é a religião oficial. Como o nome indica, Santeria. Eles defendem que é uma religião que presta culto a todos os santos, sejam eles católicos ou africanos. E para isso usam diversas ferramentas e práticas.
Numa localidade chamada San Juan de Chamula, entrei em choque quando adentrei na Igreja principal.
Não existiam bancos ao meio. os santos estavam todos nas laterais, de pé, próximos aos crentes, sem altares ou nichos com vidro protector. E as pessoas entravam com o seu bruxo e ajoelhavam-se perante o santo de sua devoção com uma galinha negra e o bruxo. O qual depois de longas orações numa longua que desconheço, degolava a galinha. O cheiro a incenso e sangue era perturbador.

São fotos tiradas da net, que eu cá só conseguia pensar em sair dali



Também houve o dia em que sem querer, entrei no Mercado Sonora.
Justamente uns meses antes, tinha lido na página de facebook P3, um artigo sobre este curioso mercado. Basicamente, é um tudo em 1!
Ou seja, nas zonas logo à entrada, dá-nos a ideia de um mercado comum, com bancas de fruta, legumes... mais atrás a zona de vestuário... e depois... ZÁS! Um braço ao lado das maçãs, uma ossada completa por baixo dos casacos... aquele artigo descreveu-me algo que na altura, achei ser fantasioso e claramente mentira. Mas por via das dúvidas, decidi nunca ir lá.
Mas quis o destino que eu, desconhecendo a zona em que me encontrava, entrasse num simpático mercado que se revelou ser o Mercado Sonora.
E tudo o que li naquele artigo, ganhou vida, apesar do meu ar incrédulo.
Vi um senhor a ler o futuro com 4 ossos no antebraço. Ossos esses comprados a um coveiro (negócio muito comum no México; os coveiros avisam os santeiros quando há enterros e recebem encomendas, sejam elas de cinzas, ossadas, ou corpos frescos e vendem sem conhecimento das familias). E dizia ele à sua cliente, muito descontraidamente, como quem fala do aumento do preço do pão, a propósito de um tiroteio naquela manhã, "Eu ainda lá passei antes de vir trabalhar a ver se via sangue fresco no chão. Para apanhar com um lencinho, sabe? Dá-me sempre jeito esse material".
E como se isto não fosse suficientemente surreal, ainda vi um corredor cheio de animais para sacrificil. Desde galinhas, a cabras, a gatinhos bebes. Doeu-me profundamente aquela imagem e mais uma vez, sabendo que eu não posso fazer nada naquele país.

Mudando de assunto: igrejas.
O culto católico também é levado de forma engraçada. O menino Jesus, por exemplo. Para eles é um menino e portanto necessita brinquedos:


Poderia contar mil coisas mais, mas prefiro ficar-me por aqui.
Tudo é demasiado pesado e inacreditável.

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