sábado, 4 de abril de 2020

Do México XV

Peyote


Já aqui tinha mencionado ISTO

A mais famosa das ervas sagradas é a Ayhuasca, nativa da Amazónia.
Aqui em Portugal também se fazem inúmeros retiros com esta planta, a cada fim-de-semana.
Para quem não sabe o que é isto das plantas sagradas, basicamente é um conjunto de ervas, cactos, flores, que contém determinadas toxinas e supostamente, elevam a consciencia de quem as toma.
Podem ser mastigadas, trituradas e metidas num sumo, snifadas...
Sobre este tema há muitas opiniões! Desde pessoas que dizem que isto nada mais é do que uma droga natural que causa alucinações, a gente que afirma que teve experiencias reveladoras durante este processo.
Confesso que como reikiana que pratica meditação desde 2013, sempre me cativou este tema e sempre quis experiementar. Mas estes eventos não são baratos além de que o preço a pagar para elevar a consciencia, inclui primeiro reações biológicas como vómito e diarreia.
Contudo, agora que vivi no México, surgiu a oportunidade. Eles lá têm também uma planta sagrada, o Peyote.
Este é um cacto que nasce no deserto e que é usado desde tempos longínquos pelos indígenas para se comunicarem com certas entidades.
No México eu fazia meditação com um tipo que usa estas plantas e faz retiros com elas a cada 3 meses e convidou-me.
Lá fui eu e o Marido.
Primeiro, 7 dias antes do grande dia, há que fazer uma dieta vegetariana, livre de alcool, açucares e processados.
No dia em si, não podemos comer depois das 18h e o evento começa as 19h.
Lá fomos nós no dia estipulado e assim que entrámos, demos de cara com um grupo de pessoas muito diverso (homens, mulheres, velhos, novos e assim assim, indigenas, citadinos, hippies, homens de negócios). Fomos recebidos com um chá e a indicação de que antes de tomarmos a erva sagrada, deveriamos passar ao Temazcal (uma espécie de sauna pré-hispânica).



Como podem ver, são estruturas de pedra ou barro, pequenas, baixas, duras. E no meio há um buraco onde estas pedras em fogo vivo são colocadas para emanar calor


Eu já tinha experimentado o Temazcal em duas ocasiões e sabia que detestava tal coisa.
Eu dou-me mal com o calor e tenho alergia ao suor (sim, é estranho mas real), logo para mim é uma experiencia dispensável, que só me causa mau estar e quebras de tensão.
Portanto eu recusei participar desta actividade. 
A cerimónia das ervas sagradas era presidida pelo meu guia de meditação e outro tipo que se achava o mais mexicano de todo o sempre, o Mexica originário e lançou-me um "Mas nunca fizeste o Temazcal comigo! Portanto não podes dizer que não gostas!". Levou com "O calor e o meu mau estar existem para alem de si". Ao que o tipo revidou "Portanto és daquelas que para cada problema na vida desiste. Achas que assim chegarás a algum lado?". 
Não preciso dizer-vos que ficou logo aquele ódiozinho no ar entre nós, não é?
Eu mantive-me firme. Ele manteve a sua cara de azia.
Enquanto eles foram fazer o tal Temazcal (Marido incluido), eu aproveitei para comer. Sim... não podiamos comer depois das 18h mas... entretanto deram-se as 20h, o tipo que eu fiquei a odiar avisou que o Temazcal demoraria 2h... enfim! Comi algo leve, para que a infração fosse menos grave! Comi manga. 
E esperei... revi o facebook, falei por whatsapp...
E lá acabou o raio do Temazcal.
Aquela gente toda (eramos cerca de 30 pessoas) foi tomar um duche rápido e lá começamos a estender os saco-cama (sim, porque iamos todos tomar o Peyote em redor de uma fogueira, ao ar livre e ali permanecer toda a noite, com os 2 anfitriões a cuidar-nos, pois o esperado é que alucinemos, vomitemos, cag*****, gritemos, choremos... sei lá!).
Eu estava nervosa! Primeiro, porque sou mentalmente muito forte. É rarissima a vez que logro meditar. Segundo porque nunca sequer experimentei um charro... portanto, não faço ideia do que seja estar ou sentir-me fora de mim. Terceiro, o pânico de achar que me ia vomitar e borrar toda ali no meio de estranhos. Este nervosismo aumentou quando os anfitriões começaram a distribuir baldinhos para vómito a cada pessoa.
Para iniciar a cerimónia, fomos introduzidos ao Rapé. Basicamente, Rapé é uma mistura de tabaco moído com menta e deve ser snifado antes de tomarmos qualquer planta sagrada. 
Ora eu passei-me logo! Eu sei lá snifar coisas! E não será desagradável? E fará sangrar o nariz? 
E enquanto eu olhava desconfiada para o Rapé, o meu professor de meditação ia-me distraindo e aproximando uma espécie de palhinha metálica do meu nariz e eis que, sem mais, pimba! Me sopra o rapé nariz adentro! Vá lá que só foi uma narina! Porque eu comecei a tossir, abanar os braços como doida, ainda lhe derrubei uma taça de Rapé, enquanto dizia "Mais não! Mais não! Cof cof!!". 
Credo! Eu para toxicodependente não dava!
Posto isto, lá nos deram o raio do Peyote, no caso, cacto triturado misturado com sumo de laranja. Supostamente a ideia é melhorar o sabor e textura da erva sagrada mas é tudo mentira! O raio do cacto é espesso, amargo e o que acontecia é que a cada gole, o sumo descia e o cacto triturado ficava agarrado as gengivas, tendo eu de o mastigar e empurrar goela abaixo.

[continua...]

1 comentário:

  1. Ola Raven, muito instrutivo. Já me fartei de rir com as tuas reações, eu faria o mesmo!! Beijinhos

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