terça-feira, 7 de abril de 2020

Do México XVI

[continuação...]



Ainda o sumo ia a meio, e eu já me estava a sentir enjoada. Lá ia tratando de tirar aquela coisa alapada às gengivas com a língua enquanto os anfitriões explicavam que por favor, tentassemos praticar técnicas de respiração e que não vomitassemos em menos de uns 40min, para que o Peyote pudesse começar a fazer efeito. 
Maltinha, só vos digo... eu foi acabar de beber aquilo (depois de muita ajuda de aguinha, porque aquela porra agarrava-se-me às gengivas e recusava descer) e pensar "Está calor... e estou enjoada... ai, se calhar devia ir esticar as pernas e afastar-me do lume".
Gente... foi andar 10 metros e... blergh!!!!
Só vi toda a gente a olhar para mim com os seus baldinhos de vómito ao lado enquanto eu gregava a roseira lá do sitio.
De vergonha afastei-me mais um pouco.
Pensei, "A sério? Tão rápida? O meu corpinho expele logo a droga exótica?!?". E esperei as alucinações. As quais teriam sido muito bem vindas ao contrário daquilo que realmente veio: correr para o wc.
Só vos digo que se seguiu 1.30h de entrar e sair do wc, num dueto entre a diarreia e o vir cá fora vomitar mais roseiras.
1.30h de angustia, em que eu não sabia se o que estava a sentir era normal, se devia ligar para o 112 ou que raio!
Momento de crise: entre diarreia e vómito e a simples manga que tinha comido, entra-me uma fome voraz. Resultado: eu sentada na sanita a comer amendoins (foi o que encontrei) e a rir-me de mim mesma. Sim, deu-me para rir da desgraça, sozinha, no wc.
Quando FINALMENTE me senti melhor e me juntei ao grupo, lá vem o anfitrião que eu odiava, "Vomitaste muito rápido, toma mais Peyote". 
Não vos consigo explicar a minha cara de asco...
O anormal insistia "Toma! Para que te faça efeito. A ver se aguentas mais agora antes de vomitar!".
Nem respondi... virei costas e fui-me deitar no meu saco-cama.
Então eu aguentei aquela porcaria no bucho 2 singelos minutos que deram origem a 1.30h de vómito e merda e ele quer que eu volte a "tentar"?!? Tá doido?!?
Eu só sentia alivio e dor abdominal de tanto estar dobrada a gregar as roseiras. 
Nisto o Marido vem ter comigo, aproveita pra me fazer bulling porque fui a primeira a vomitar, ainda por cima num espaço comum e que todos me viram, e diz-me que está cheio de sono, que não está a sentir nada diferente e que já uns quantos choraram e falaram sozinhos enquanto eu estive ausente.
Ficamos ali juntos, quando ouvimos um grito. E lá começa uma mulher a chorar, mas de forma intensa... um gemido, um grito, um choro que mais parecia o uivar de um animal ferido. E nisto levanta-se um tipo com pinta de indio, cabelo longo, roupas hippies, com uma pluma na mão e começa a girá-la em cima da cabeça da mulher que uiva.
Mais ao lado, um tipo estava de pé, olhos fechados, a abanar-se como quem está num festival de transe.
E assim se passou a noite, em que eu e o Marido só tentavamos abafar o riso, admirando estupefactos tudo aquilo.
Amanheceu. Eu pensei "Finalmente! Bora para casa!". 
Mas o show continuou. Toca a levantar todos e a agradecer ao sol com uma coreografia especifica.
Eu aproveito para averiguar as carinhas do pessoal. Era tudo a chorar, emocionado. 
Depois deram-nos un chá e pude observar como as pessoas partilhavam experiencias, outros afastavam-se para chorar e todos contavam coisas que ao parecer, foi óbvio para muitos, mas não para mim.
Depois era suposto termos um pequeno-almoço comunitário e partilhar visões mas eu e o Marido entre-olhamo-nos e ele lá lançou um "Aaaaaah que pena! Adoravamos ficar mas eu tenho uma reunião com o meu sócio. Tenho taaaaanta pena mas temos de ir". E lá saimos, mediante o olhar reprovador do anfitrião que eu odeio  (que ainda teve o desplante de me dizer que eu vomitei logo porque sou europeia e não estou preparada para a energia potente dos indigenas americanos), e com muitas indicações: "Não comam nada pesado! Só frutinha. Porque o Peyote fica no organismo até uma semana mais e podem ter sonhos esquesitos, revelações, vómitos... cuidado!".
Nós: "Claaaaaaaro!!".
Pessoal... em 30min estavamos a parar num restaurante e eu comi um frango assado inteiro sozinha!

Resumindo: se as plantas sagradas têm algo de estérico, não sei. Eu senti-me num grupo de drogaditos, amaldiçoei o momento em que decidi pagar por algo assim, chorei pelas economias perdidas nesta tontice, ri-me perante a lembrança de mim a comer amendoins na sanita e andei 2 dias com o nariz irritado a assoar Rapé.

O sitio onde tudo aconteceu




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