Quarta-feria, dia 25, o
meu Aniversário.
Quinta feira, dia 26,
23h, vejo o meu recibo de vencimento agora que sou trabalhadora em part-time e
adormeço a chorar ao entender que já não vivo neste cidade, sobrevivo.
Sexta-feira, dia 27,
13.12h, levanto-me num acto de tristeza, pronta para expor as minhas
preocupações ao meu chefe, pronta para explicar que se não me devolver rápido
um horário a 8h diárias, me terei de despedir e voltar a casa da Mammy louca.
Nesse momento toca o telemóvel. Eu estava a 4 passos do meu chefe. O telemóvel insiste.
Um numero que não conheço. Decido atender primeiro e falar com o chefe depois.
Era de uma cafetaria/restaurante, a quererem marcar uma entrevista de emprego
comigo para Segunda. Acedi. Sem grandes expectativas, afinal nunca trabalhei em
hotelaria, nunca tirei um café nem sei onde se liga aquela máquina grande e
medonha. Mas não pude deixar de pensar nas coincidências: ligaram-me
exactamente desta cafetaria para uma entrevista na minha primeira semana de
trabalho no Call Center, Obviamente recusei. Agora que ia discutir o meu futuro
com o chefe, ligam-me novamente deste sitio. Fiquei, com a minha veia
espiritual, a ponderar se não seria um sinal.
Sábado, dia 28, faço o II
nível de Reiki e peço muito ao Universo por um emprego digno e honesto que me
permita viver despreocupadamente.
Domindo, dia 1. Compras,
leituras e mimos ao Eros. Reparo que tem uma bola no queixo. Fico aflita
perante a minha falta de dinheiro para o levar ao veterinário.
Segunda, dia 2, 10.30h,
entrevista de emprego. Inicia-se de forma rude. Dizia-me a dona do espaço “Então
o que a leva a deixar aqui um currículo se nunca tirou um café na vida?”.
Senti-me a enterrar na cadeira. Mas avancei. Expliquei que não me identifico
com a minha geração, onde todos se queixam das circunstancias mas nenhum larga
a carteira do pai, onde ninguém arrisca, onde todos são doutores e se recusam a
trabalhar em menos do que julgam ser um status. Eu quero trabalhar em algo
honesto, tenho uma licenciatura congeladíssima no último ano que nem pondero
retomar e não me envergonho se tiver de aprender a servir almoços. Quem quer
trabalhar e ser honesto, esforça-se. E a conversa descambou em 2h sobre a minha
vida pessoal e a da dona, sobre os filhos dela e o meu gato, sobre o passado
dela e os meus voluntariados. Até que ela me diz “Tirar cafés, qualquer um
aprende. Já bons valores, ou se nasce com eles ou não se inventam. Gostaria que
trabalhasse cá, quero ter a certeza que tenho alguém de boa índole nesta
empresa. O resto aprende-se. Sente-se preparada? 30 dias à experiencia. O que
me diz?”. Fiquei indecisa… largar o pouco mas certo que tenho no Call Center ou
arriscar num emprego a tempo inteiro, onde me pagam bem melhor mas onde não
tenho a mínima experiencia ou noção? Ainda para mais, 30 dias à experiencia… e
a cafetaria e o Call Center não se podem conciliar, não dá. Perguntei
directamente “Para arriscar aqui, terei de me despedir. Perco tudo”. E a dona
acrescenta “Raven, confie. Eu acredito que se sairá lindamente. Vai correr bem”.
E assim senti que devia arriscar. Sai de lá, fui directa para o Call Center,
falei de coração aberto com o meu chefe e ele lá me passou uma carta de
demissão com data falsificada, para parecer que avisei a entidade patronal com
30 dias de antecedência e para não me empatar a vida. Hoje, oficialmente,
demiti-me. Em tempo record.
Começo quarta-feira às
7.30h na Cafetaria onde nem sei fazer um cappuccino ou ligar a máquina do café.
Deus me ajude que, até
para mim, este foi um lance muito extremo. Nunca arrisquei tanto. Tenho medo e
ao mesmo tempo orgulho de mim.
Hoje, terça.feira, é a
ponte que tenho para me desligar do mundo das telecomunicações e começar a
pensar em ser rápida, ter boa memória e correr de mesa em mesa entre horários
complicados. Tenho tanto medo de não conseguir. A minha nova chefe avisou que o
importante neste emprego é ser célere e eu sou conhecida por fazer as coisas
bem, dedicada mas devagarinho, sempre fui meio lenta a trabalhar. Estou
nervosa, com coisinhas no estomago e em pânico!
Comovente a tua forma de ver e confrontar a vida. Parabéns !!
ResponderEliminarVais sorrir e ter orgulho nesse teu percurso. Sei o que digo...
:)
ResponderEliminarUff, ainda bem que o universo de alinhou para por no teu caminho uma solução. Quanto ao café, é normalíssimo estares nervosa e não te vou dizer para não estares, mas a minha mãe tem um café e eu ajudo-a lá desde adolescente. Chego a ficar lá dias inteiros sozinha e posso garantir-te que o mais importante é conseguires ser educada e simpática, tudo o resto aprende-se bem, principalmente tirar cafés - o tamanho da máquina assusta mas depois aquilo é facílimo de usar. Sandes, torradas e isso já sabes fazer, bolos é só colocar no prato e estão prontos, bebidas é chato no sentido de decorar os mil e um preços diferentes e o tipo de copo em que se servem, mas num mês aprendes isso na boa, andar com mil e um pratos nas mãos também parece coisa do demónio mas tem tudo truque. Se és desenrascada, garanto-te que dás conta do recado!
ResponderEliminarÉ preciso é calma que vai correr tudo bem...
ResponderEliminarForça para esta nova etapa...
Vais sair-te lindamente nesta nova etapa. Não há margem para dúvidas. Boa sorte :) *
ResponderEliminarMuito boa sorte!!! Acredite vai correr bem. ;)
ResponderEliminarTenho a certeza que vai correr bem! Sabes uma coisa, o truque para tirar um bom café numa máquina industrial é exactamente fazê-lo com delicadeza! Falo por experiência própria! Fico a torcer por ti!
ResponderEliminarVai com calma... Concentra-te e pergunta a quem sabe sempre que tiveres dúvidas! És uma lutadora e não é agora que as coisas vão correr mal... muito pelo contrário!
ResponderEliminarForça!
Luciana
Admiro a tua coragem. Admiro o teu modo de ver a vida. É mesmo assim. Vai correr bem. Só custa começar!
ResponderEliminarMuita força, és uma lutadora!
ResponderEliminarA arriscares assim, a ter essa capacidade de não baixar os braços, acho que só podes mesmo dar te bem! Força! E mesmo que não seja o sonho, com certeza que será um degrau importante!
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