terça-feira, 3 de março de 2015

Cronograma de uns dias surreais

Quarta-feria, dia 25, o meu Aniversário.
Quinta feira, dia 26, 23h, vejo o meu recibo de vencimento agora que sou trabalhadora em part-time e adormeço a chorar ao entender que já não vivo neste cidade, sobrevivo.
Sexta-feira, dia 27, 13.12h, levanto-me num acto de tristeza, pronta para expor as minhas preocupações ao meu chefe, pronta para explicar que se não me devolver rápido um horário a 8h diárias, me terei de despedir e voltar a casa da Mammy louca. Nesse momento toca o telemóvel. Eu estava a 4 passos do meu chefe. O telemóvel insiste. Um numero que não conheço. Decido atender primeiro e falar com o chefe depois. Era de uma cafetaria/restaurante, a quererem marcar uma entrevista de emprego comigo para Segunda. Acedi. Sem grandes expectativas, afinal nunca trabalhei em hotelaria, nunca tirei um café nem sei onde se liga aquela máquina grande e medonha. Mas não pude deixar de pensar nas coincidências: ligaram-me exactamente desta cafetaria para uma entrevista na minha primeira semana de trabalho no Call Center, Obviamente recusei. Agora que ia discutir o meu futuro com o chefe, ligam-me novamente deste sitio. Fiquei, com a minha veia espiritual, a ponderar se não seria um sinal.
Sábado, dia 28, faço o II nível de Reiki e peço muito ao Universo por um emprego digno e honesto que me permita viver despreocupadamente.
Domindo, dia 1. Compras, leituras e mimos ao Eros. Reparo que tem uma bola no queixo. Fico aflita perante a minha falta de dinheiro para o levar ao veterinário.
Segunda, dia 2, 10.30h, entrevista de emprego. Inicia-se de forma rude. Dizia-me a dona do espaço “Então o que a leva a deixar aqui um currículo se nunca tirou um café na vida?”. Senti-me a enterrar na cadeira. Mas avancei. Expliquei que não me identifico com a minha geração, onde todos se queixam das circunstancias mas nenhum larga a carteira do pai, onde ninguém arrisca, onde todos são doutores e se recusam a trabalhar em menos do que julgam ser um status. Eu quero trabalhar em algo honesto, tenho uma licenciatura congeladíssima no último ano que nem pondero retomar e não me envergonho se tiver de aprender a servir almoços. Quem quer trabalhar e ser honesto, esforça-se. E a conversa descambou em 2h sobre a minha vida pessoal e a da dona, sobre os filhos dela e o meu gato, sobre o passado dela e os meus voluntariados. Até que ela me diz “Tirar cafés, qualquer um aprende. Já bons valores, ou se nasce com eles ou não se inventam. Gostaria que trabalhasse cá, quero ter a certeza que tenho alguém de boa índole nesta empresa. O resto aprende-se. Sente-se preparada? 30 dias à experiencia. O que me diz?”. Fiquei indecisa… largar o pouco mas certo que tenho no Call Center ou arriscar num emprego a tempo inteiro, onde me pagam bem melhor mas onde não tenho a mínima experiencia ou noção? Ainda para mais, 30 dias à experiencia… e a cafetaria e o Call Center não se podem conciliar, não dá. Perguntei directamente “Para arriscar aqui, terei de me despedir. Perco tudo”. E a dona acrescenta “Raven, confie. Eu acredito que se sairá lindamente. Vai correr bem”. E assim senti que devia arriscar. Sai de lá, fui directa para o Call Center, falei de coração aberto com o meu chefe e ele lá me passou uma carta de demissão com data falsificada, para parecer que avisei a entidade patronal com 30 dias de antecedência e para não me empatar a vida. Hoje, oficialmente, demiti-me. Em tempo record.
Começo quarta-feira às 7.30h na Cafetaria onde nem sei fazer um cappuccino ou ligar a máquina do café.
Deus me ajude que, até para mim, este foi um lance muito extremo. Nunca arrisquei tanto. Tenho medo e ao mesmo tempo orgulho de mim.
Hoje, terça.feira, é a ponte que tenho para me desligar do mundo das telecomunicações e começar a pensar em ser rápida, ter boa memória e correr de mesa em mesa entre horários complicados. Tenho tanto medo de não conseguir. A minha nova chefe avisou que o importante neste emprego é ser célere e eu sou conhecida por fazer as coisas bem, dedicada mas devagarinho, sempre fui meio lenta a trabalhar. Estou nervosa, com coisinhas no estomago e em pânico!


11 comentários:

  1. Comovente a tua forma de ver e confrontar a vida. Parabéns !!
    Vais sorrir e ter orgulho nesse teu percurso. Sei o que digo...

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  2. Uff, ainda bem que o universo de alinhou para por no teu caminho uma solução. Quanto ao café, é normalíssimo estares nervosa e não te vou dizer para não estares, mas a minha mãe tem um café e eu ajudo-a lá desde adolescente. Chego a ficar lá dias inteiros sozinha e posso garantir-te que o mais importante é conseguires ser educada e simpática, tudo o resto aprende-se bem, principalmente tirar cafés - o tamanho da máquina assusta mas depois aquilo é facílimo de usar. Sandes, torradas e isso já sabes fazer, bolos é só colocar no prato e estão prontos, bebidas é chato no sentido de decorar os mil e um preços diferentes e o tipo de copo em que se servem, mas num mês aprendes isso na boa, andar com mil e um pratos nas mãos também parece coisa do demónio mas tem tudo truque. Se és desenrascada, garanto-te que dás conta do recado!

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  3. É preciso é calma que vai correr tudo bem...
    Força para esta nova etapa...

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  4. Vais sair-te lindamente nesta nova etapa. Não há margem para dúvidas. Boa sorte :) *

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  5. Muito boa sorte!!! Acredite vai correr bem. ;)

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  6. Tenho a certeza que vai correr bem! Sabes uma coisa, o truque para tirar um bom café numa máquina industrial é exactamente fazê-lo com delicadeza! Falo por experiência própria! Fico a torcer por ti!

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  7. Vai com calma... Concentra-te e pergunta a quem sabe sempre que tiveres dúvidas! És uma lutadora e não é agora que as coisas vão correr mal... muito pelo contrário!
    Força!

    Luciana

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  8. Admiro a tua coragem. Admiro o teu modo de ver a vida. É mesmo assim. Vai correr bem. Só custa começar!

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  9. Muita força, és uma lutadora!

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  10. A arriscares assim, a ter essa capacidade de não baixar os braços, acho que só podes mesmo dar te bem! Força! E mesmo que não seja o sonho, com certeza que será um degrau importante!

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