quinta-feira, 3 de março de 2016

Coisas de irmãos


O Eros foi-me dado com 5 semanas.
Cabia na palma da mão.
Na primeira noite, fez-me xixi no cabelo e cocó aos pés da cama. Não queria comer. Lembro-me de estar toda a noite de joelhos com uma tacinha de leite, a convencê-lo a beber.
Foi crescendo, mimado, cheiroso. Só come as marcas que gosta, manda em mim, e o  animal de estimação dele sou eu. Já me mandou para o hospital duas vezes, já estive de baixa por causa dele e digamos que já vamos no quinto veterinário (os outros desistiram de o atender e recomendaram o abate).
O Eros não brinca. É sério.
É também dono de uma beleza e perfeição incriveis. É um Russian Blue perfeito. Já me ofereceram várias vezes dinheiro por ele.
Já estamos juntos há 3 anos.

O Ícaro nasceu na rua. Calcula-se que tenha uns 2 anos. Foi agredido, escorraçado, atacado por pessoas e outros animais. Tem o maxilar defeituoso de pontapés, o nariz com um desvio, faz ruido a respirar e tem os pulmões cansados de tantas gripes e penumonias mal curadas nos invernos da rua. Comeu lixo. Lutou para sobreviver. Vê mal. Tem sempre mau hálito e gengivite. Come tudo o que lhe dou. É grato. Limpa-me as lágrimas e é "chatinho" de tanto amor que pede. Nunca sai do meu colo e adora brinquedos. Come sempre a correr, ainda a medo que lhe tirem o alimento.
Tem uma cara meio de tonto, com olhos estrábicos, nariz torto, lingua de fora e maxilar esquisito.

Os manos, surpreendentemente, têm aprendido um com o outro. O Eros, o bad boy mimado, ensina o irmão a romper sacos de snacks, a roubar fiambre, a abrir a ração. O Ícaro ensina o mano a brincar e a ser menos duro. Já se lambem um ao outro. Sabem já ambos os lugares na hora de dormir: eu ao meio, o Eros à minha esquerda debaixo dos cobertores (nem sei como respira) e o Ícaro à minha direita, debaixo dos cobertores mas com a cabeça de fora no meu ombro ou na almofada.
E um mês depois de adoptar o Ícaro, não podia estar mais feliz com esta opção.

3 comentários:

  1. E tu cheia de receio que o Eros não se adapta-se =) Surpresa boa

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  2. Adoro ler estas histórias com final feliz! :) O meu também veio da rua mas felizmente não tem nenhum problema de saúde nem foi maltratado.
    Queria só dizer, em relação ao leite de vaca, que não o devemos dar a gatos porque faz-lhes mal. Tem nutrientes que servem só para os vitelinhos e, para além disso, a maioria dos gatos torna-se intolerante à lactose depois da amamentação.

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    1. Eu sei, Sara. Mas eu dou-lhes umas garrafinhas de leite para gato. Tens da wiskas, da marca continente e no pingo doce há também uma marca mais barata.
      Se adoptaste um patudo de rua, PARABENS. É essa a ideia. Nada de comprar vidas.

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